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Otimismo para o Dia dos Pais

Por Marco Dassori

19 de julho de 2023 às 14:37 Compartilhe

Lideranças do comércio e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio se mostraram otimistas em relação aos impactos do Desenrola Brasil (Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas Inadimplentes) na economia amazonense. As renegociações das dívidas do Faixa 2 começaram na segunda (17), com foco em 30 milhões de brasileiros, de renda mensal entre R$ 2.640 e R$ 20 mil, e incluídos no cadastro de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022.

Os débitos podem ser quitados em até 12 prestações. Nesta fase, também serão retirados do cadastro de devedores, os nomes de quem tem dívidas até R$ 100. Segundo o Ministério da Fazenda, em torno de 1,5 milhão de pessoas deixarão de ter restrições e voltarão a poder ter acesso ao crédito. Em matéria postada no site da Agência Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estima que o público beneficiado que está nessa faixa pode subir para 2,5 milhões, caso o banco Nubank aceite fazer parte do programa.

Imagem: Reprodução

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas), Aderson Frota, lembra que a explosão de inadimplência no país começou a partir do “ano atípico” de 2022, marcado pelo começo da guerra na Ucrânia e seus desdobramentos na expansão inflacionária global. E acrescenta que os impactos nacionais dessa crise levaram o Banco Central a iniciar um ciclo de escalada dos juros básicos, de 2% a 13,75% ao ano, em poucos meses. “A Selic é uma referência para as taxas de juros bancárias, que cresceram assustadoramente, de 300% a 400%. Isso acabou atingindo o consumidor e mais de 80% das famílias acabaram endividadas”, destacou.

No entendimento de Frota, o Desenrola é uma “resposta saudável” do Executivo a esse problema. “O programa tem os seus limites e é preciso que haja a adesão dos bancos. Mas, esse clima, no qual o governo acena com a necessidade de restabelecer o consumidor e tira-lo dessa zona de negatividade, traz uma perspectiva muito boa para o varejo. Na minha avaliação, o comércio realmente tem muitos motivos para festejar essa medida, que começa tímida, mas depois deve ir crescendo, buscando restabelecer a economia, com a recomposição do poder de compra do consumidor”, asseverou.

 

“Mercado retraído”

De acordo com o primeiro vice-presidente da ACA (Associação Comercial do Amazonas), Paulo Couto, os comerciantes estão “bem otimistas” com a medida, especialmente diante da aproximação do Dia dos Pais. O dirigente salienta que toda política ou iniciativa de recuperação de crédito que possibilite o reingresso do consumidor ao mercado é vista com “bons olhos”, pois tem o condão de gerar reaquecimento no varejo, que atualmente passa por uma conjuntura de “movimento ruim” e de faturamentos e margens cadentes.

“Quanto mais intensa for essa campanha, melhores resultados teremos, pois a iniciativa pode gerar mais renda e consumo, em um momento em que o mercado está retraído e com resultados apertados. É claro que a alta dos juros e as restrições ao crédito dificultam, e o programa também não inclui todos os tipos de dívidas. Mas, o setor está otimista, porque o nome limpo dá mais margem para o consumidor voltar às compras”, ponderou.

Em sintonia, o presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, avalia que o Desenrola tende a fortalecer o comércio do Amazonas, tanto no “pequeno varejo”, quanto no varejo estendido – que inclui bens de maior valor agregado e dependentes de crédito. “A iniciativa vai tornar os consumidores adimplentes e aptos ao consumo, restabelecendo o crescimento do comércio. E creio esse consumidor que retorna ao mercado terá um perfil mais moderado com as dívidas”, opinou.

 

Educação financeira

A ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, cita uma pesquisa do Palácio do Planalto para assinalar que endividamento e inadimplência constituem alguns dos maiores problemas dos brasileiros, causando transtornos sociais e até problemas de saúde. Por isso, a economista diz que vê o programa com “muito otimismo”.

“A restrição ao consumo tem impacto direto na economia regional visto que reduz as vendas e impacta no crescimento do comércio e serviços que são setores relevantes para a atividade econômica e grandes geradores de emprego e renda. Esperamos que parte expressiva da população em situação de endividamento busque renegociar sua dívida e volte a consumir, o que favorecerá o crescimento econômico”, afiançou.

A economista ressalva que reduzir a inadimplência e o endividamento deveria ser parte de um amplo programa de educação financeira para evitar reincidências. “O Brasil aprovou, durante a pandemia, um projeto de lei (157/2021) incluindo a educação financeira nos currículos escolares, com a transversalidade de disciplina desde a primeira infância, o que contribuiria para evitar o quantitativo de endividados, que aumenta a cada ano no país. Tal implementação evitaria a recorrência de campanhas de renegociação”, recomendou.

Na mesma linha, o ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, concorda que o Desenrola é uma chance para os consumidores limparem seus nomes no SPC e Serasa. O economista concorda também que a iniciativa deve ser acompanhada por políticas para garantir aumento de empregos e salários, assim como a adequar as famílias ao planejamento financeiro.

“Não é só uma questão de tirar as pessoas do endividamento, mas também de dar a elas uma educação financeira. Dessa forma, elas poderão ter maior controle sobre esse aspecto de suas vidas, e não cair nas armadilhas do consumismo ou estar condicionadas a outros fatores que fazem as pessoas se endividarem”, frisou.

 

Baixa renda

A consultora empresarial, professora universitária, conselheira do Cofecon e integrante da seção regional da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, Denise Kassama, se disse “muito otimista” em relação ao programa. A economista não faz nenhum reparo à iniciativa, embora acrescente que seria desejável fazer uma revisão após um mês de implantação, para ver se os objetivos estão sendo atendidos. Para ela, o ponto mais positivo é visar justamente os segmentos de baixa renda, enquanto o ponto negativo é depender justamente da rede bancária para fazer isso.

“Essa questão das dívidas impacta principalmente as camadas mais baixas da população. Pensando nisso, o governo criou uma sistemática para esse público. Só de tirar dos cadastros negativos as pessoas que devem em torno de R$ 100, que para a gente pode não ser muita coisa, é importantíssimo. Elas voltam a ter poder de crédito na praça e só precisam se cuidar para não se endividar novamente. Acredito que a medida vai ser muito benéfica e que devemos ter aumento de consumo e melhora na economia de uma forma geral”, opinou. “Vamos ver se eles conseguem estabelecer isso na prática, pois dizer que banco não vai ter lucro é meio complexo”, concluiu.

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