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Histórias e Lendas do Amazonas

Histórias e Lendas

Lenda do Sol e da Lua

Por Paulo Almeida Filho

16 de dezembro de 2024 às 14:51 Compartilhe

Há muito tempo, na selva amazônica viviam dois jovens apaixonados, que sonhavam em se casar. Ela vestia-se de prata e seu nome era Lua. Ele vestia-se de ouro e o seu nome era Sol. Lua era a dona da noite e Sol era dono do dia. Essa história da região amazônica conta que o Sol, esse que brilha no céu, já foi um rapaz forte e muito bonito.

Certa vez, há muito tempo atrás, num lugar muito distante onde só havia os verdadeiros brasileiros habitando o Brasil, e ali por muito tempo permaneceram até que com a colonização apareceram os homens brancos, que a todo custo queriam dominar as riquezas do país e, sem escrúpulos, iam se embrenhando e dominando os habitantes que ali viviam.

Há muitos e muitos anos, houve uma festa na aldeia onde um lindo rapaz morava, a “FESTA DA MOÇA NOVA”, um ritual que celebra a passagem das meninas indígenas de crianças a “moças” ou “jovens mulheres”.

Era dia de música, dança, bebida e comida à vontade. E todos, é claro, caprichariam nas pinturas do corpo com a tinta vermelha a base de urucum, fruto do urucuzeiro.

Pois bem, o belo rapaz quis ajudar sua tia no preparo da tinta. Entrou na mata, trouxe madeira vermelha de muirapiranga, cortou a lenha e acendeu o fogo, no qual a velha senhora pôs a ferver o urucum para que todos pudessem se pintar.

Mas a tia do moço não era uma pessoa muito feliz.

Era maldosa e ranzinza.

O rapaz se dedicava à tarefa de buscar mais e mais lenha para o fogo e, mesmo assim, ela não parava de reclamar.

Admirado com o caldo vermelho borbulhando, ele perguntou à tia se poderia provar da tinta. A mulher impaciente disse que sim. Insistiu para ele beber uma grande quantidade, garantindo que o gosto era bom e que não lhe faria mal.

No fundo, porém, ela queria que ele passasse mal, fosse embora logo e a deixasse sozinha.

O rapaz bebeu e, conforme engolia a tinta quente, ia ficando vermelho, cada vez mais vermelho, extremamente vermelho, até que ficou em chamas! A tia, espantada, viu o sobrinho virar uma bola de fogo, subir ao céu e sumir entre as nuvens.

E foi assim que um jovem indígena se tornou o Sol, que aquece e ilumina o mundo todo.

Essa lenda tem origem entre os Tikuna (ou Tukuna), o mais numeroso povo indígena da Amazônia brasileira. A região que ocupam fica na fronteira com o Peru, próximo ao Vale do Rio Solimões, no estado do Amazonas.

Havia um obstáculo para a namoro de ambos: se eles se casassem o mundo se acabaria. O ardente amor de sol queimaria a terra toda. O choro triste da Lua toda a terra afogaria.

Apesar de apaixonados, como poderiam se casar?

A Lua apagaria o fogo?

O Sol faria toda a água evaporar?

Apaixonados, se separaram e nunca puderam se casar.

Os noivos ficaram tristíssimos.

No desespero da saudade, a Lua chorou durante todo um dia e uma noite.

Suas lágrimas escorreram por morros sem fim até chegar ao mar.

Mas o oceano, bravio, não queria aceitar tanta água.

A sofrida lua não conseguiu misturar suas lágrimas às águas salgadas do mar e foi assim que algo estranho aconteceu.

As águas formadas com as lágrimas da lua escavaram um imenso vale, onde também muitas serras se levantaram.

Um imenso rio apareceu inundando vales, florestas e lugares sem fim. Eram as lágrimas da lua, que de tanta tristeza, formaram o Rio Amazonas, o Rio-Mar da Amazônia.

Em uma bela manhã, quando eles seguiam em um lindo rio, hoje denominado Rio Amazonas, ficaram deslumbrados com um dos mais belos amanheceres de suas vidas! O sol vinha raiando por de trás de uma montanha, e seus raios dourados refletiam um brilho encantador, os dois olharam-se e falaram:

– Ali está a terra prometida o lugar que iremos zelar e ficar eternamente.

A montanha que eles avistaram hoje é chamada de Serra da Escama. E ao chegarem mais próximos, depararam também com um maravilhoso lago onde encontraram muitos peixes e pássaros das mais variadas espécies, onde havia com abundância a vitória-régia, o murerú, os belos anhingais, enfim; tudo o que eles precisavam para sobreviver.

Esse lago recebeu o nome de Lago Pauxis em homenagem aos primeiros habitantes deste lugar, que aqui formaram família e povoaram esta terra e que por muitos anos foi habitada por eles, sempre acreditando e cumprindo a missão que lhes foi confiada que era somente trabalhar na terra com respeito e usar os lagos e a mata para tirar apenas o seu sustento, não derrubando árvores desordenadamente, não fazendo queimadas, não poluindo os rios, lagos e igarapés, sempre preservando a natureza.

Mas com a chegada do homem branco, eles, reviveram o pesadelo de seus antepassados e aí o homem branco, que sempre se diz civilizado, invadiu o espaço dos Pauxis, e, com o seu espírito de destruição, começou a devastar a floresta desordenadamente, afugentando e até matando muitos índios que eram os verdadeiros habitantes desse lugar.

Mas mesmo muito tristes, o Sol e a Lua como eram chamados os dois primeiros habitantes da tribo Pauxis, resolveram ficar e lutar pela preservação, principalmente da Serra e do Lago, e, por muitos anos, ali permaneceram, até que em um determinado tempo o homem não conformado só com a destruição da mata e da caça, resolveram a acabar com que lhes era mais precioso; o belo Lago, o qual foi cruelmente destruído, ficando assim sem os aningais, sem os pássaros, sem os peixes, sem os animais que dele sobreviviam. O belo Lago foi transformado apenas numa lagoa a céu aberto, onde a vida já não mais existia, e além disso, o próprio homem começou a poluí-lo desordenadamente.

Então o Sol e a Lua inconformados com tanta destruição, só faziam chorar, e em uma noite de lua, eles saíram meio que enlouquecidos de tanta tristeza e caminharam até onde hoje é o porto de cima, e ao chegarem bem no alto da barreira, olhando para o céu e pediram:

– Oh mãe Lua, nós te imploramos que nos liberte desse sofrimento, pois não queremos sair deste lugar, mas não aguentamos ver tanta destruição, por isso, gostaríamos que acabasse com o nosso sofrimento.

Então, a mãe lua, compadecida e ouvindo o clamor dos dois, os encantou no alto da barreira, e ali eles permanecem para sempre, preservando assim a raiz de origem dos Pauxis. Diz a lenda que no local do encante, próximo ao pingo d’água no porto de cima, as pessoas que por ali passam sempre percebem umas gotas de água que surgem cristalinas do alto da barreira, e que são as lágrimas dos dois que continuam a chorar por ver tanta destruição da natureza.

Segundo os sábios, dizem que quem passar no local onde a água fica pingando, e pegar alguns desses pingos e fizer uma cruz do lado esquerdo do peito, é tocado pelo espirito do Sol e da Lua, e para sempre será um preservador da Natureza.

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