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Tribo Sateré Mawé

Por Paulo Almeida Filho

6 de setembro de 2023 às 15:27 Compartilhe

O povo indígena Sateré Mawé habita a região do médio rio Amazonas em duas terras indígenas, uma denominada TI Andirá-Marau, localizada na fronteira dos estados do Amazonas e do Pará, e outra chamada TI Coatá-Laranjal, na qual vive um pequeno grupo da etnia Munduruku. A terra indígena Andirá-Marau possui 780.528 hectares e uma população de 13 mil pessoas. O seu nome se refere aos rios Andirá, em Barreirinha, e Marau, em Maués, afluentes do rio Amazonas.
Os Sateré Mawé são conhecidos por cultivarem o guaraná. O fruto amazônico nativo desse território é tão importante para eles que aparece no mito fundador deste povo.
Atualmente, vários indígenas Sateré Mawé residem em áreas periféricas de Manaus e formam quatro aldeias urbanas nesta região.

Ameaças – Desde o século XVIII, os Sateré Mawé tiveram seu território alterado pelas missões jesuítas, pela busca das drogas do sertão e pela extração de borracha da seringueira.
Mais recentemente, as modificações se deram pela expansão econômica no interior dos municípios de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba. Esse movimento estimulou a criação de fazendas, a abertura de garimpos, além de provocar o desmatamento e a dominação da economia indígena pelos regatões, comerciantes ambulantes. As epidemias e a perseguição forçaram o deslocamento dos Sateré Mawé de seus territórios tradicionais, o que também colaborou para a redução de sua população.

Na década de 1980, os Sateré Mawé protagonizaram um combate à invasão da estatal francesa de petróleo Elf-Aquitaine que abriu 344 km de picadas, 82 clareiras e provocou a morte, por intoxicação, de quatro indígenas. Os indígenas ganharam o processo judicial movido contra a Elf-Aquitaine e também tiveram vitória sobre outra ameaça, a construção da rodovia Maués-Itaituba, que cortaria seu território. Atualmente, jovens lideranças indígenas tentam ampliar o território do seu povo e combater o novo inimigo: a construção de dezenas de hidrelétricas, na bacia do Amazonas, que poderão afetar suas terras.

Artesanato e arte Indígena – A subsistência das famílias Sateré Mawé baseia-se na agricultura, com destaque para o plantio de guaraná e de mandioca. O excedente de farinha, mel, castanha, diferentes qualidades de coquinhos, breu, cipós e vários tipos de palhas são comercializados nas cidades vizinhas. A comunidade indígena também comercializa seus artesanatos e outros artefatos de grande riqueza cultural. Eles são designados por tessumi. Esse artesanato é confeccionado pelos homens com talos e folhas de caranã, arumã e outras matérias-primas extraídas da Floresta Amazônica. Os artesãos fazem peneiras, cestos, tipitis, abanos, bolsas, chapéus e também utilizam, tradicionalmente, os mesmos materiais na construção das paredes e das coberturas de suas casas.

Desde os anos 1990, a comunidade indígena vem se organizando com o apoio de organizações não-governamentais e buscando autonomia econômica por meio do comércio justo. Terra indígena Sateré-Mawé é reconhecida como região de guaraná nativo. A terra indígena Andirá-Marau, do povo Sateré-Mawé, foi reconhecida como indicação geográfica (IG) para o guaraná nativo.

O reconhecimento foi feito pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). No caso, a denominação identifica o produto como originário de um local, com identidade própria, e características que se devem essencialmente a fatores naturais e humanos. O coordenador-geral de indicação geográfica do INPI, Marcelo Pereira, falou sobre os elementos que levaram ao reconhecimento da terra indígena, que fica na divisa entre o Amazonas e o Pará.

O registro de uma IG vai possibilitar proteger e identificar o guaraná beneficiado pelos Sateré-Mawé. É a primeira IG, no Brasil, a ser utilizada por um povo indígena. O presidente do Conselho Geral da Tribo Satere-Mawe, Obadias Batista, destaca que o guaraná nativo do seu povo já é exportado para a França e a Itália. A liderança acredita que a indicação geográfica também ajuda a manter a cultura milenar, muitas vezes perdida pelo próprio povo. Para os Sateré-Mawé, o guaraná é sagrado. Obadias explica que a planta germinou dos olhos de uma criança indígena assassinada pelos tios.

O guaraná nativo produzido pelo povo Sateré-Mawé é colhido na floresta, secada lentamente no forno de argila, desidratado e defumado artesanalmente, o que garante as propriedades como cheiro e sabor por mais tempo. Apenas o que não é consumido pela comunidade é comercializado na forma de grão, pó ou em pasta, chamada de bastão de guaraná ou pão de waraná. Segundo Débora Santiago, coordenadora de Indicação Geográfica do Ministério da Agricultura, além da proteção contra pirataria, a IG também vai valorizar o guaraná produzido na área.

O presidente do Conselho Geral da Tribo Satere-Mawe, Obadias Batista, destaca que o guaraná nativo do seu povo já é exportado para a França e a Itália. A liderança acredita que a indicação geográfica também ajuda a manter a cultura milenar, muitas vezes perdida pelo próprio povo.

 

 

 

Maués ou Mawés é uma etnia indígena da Amazónia, também conhecida por saterémaué, sateré-mawé, maooz, mabué, mangués, manguês, jaquezes, maguases, mahués, magnués, mauris, maraguá, mahué e magueses. Falam a língua sateré-maué, integrante única da família linguística de mesmo nome, pertencente ao tronco tupi. “Nós somos como um pássaro no mundo”, palavras de um índio Maué (PEREIRA, 1954). Origem – Atribuem a sua origem ao cadáver (icançoque) do filho de Onhiámnuaçabê, plantadora e conservadora do Noçoquém.

Depois da tribo dos Tapajós, tornou-se a mais numerosa naquela região de confluência do rio Tapajós. Teve como principal inimigo a tribo mundurucu e seus vizinhos, os apiacás, os kawahib-parintintins, os andirazes e os muras.

Etimologia – Segundo algumas fontes, o nome da tribo seria uma junção das palavras sateré, que significaria “lagarta de fogo”, e mawé, que significaria “papagaio inteligente e curioso”.
Por outro lado, um estudo conduzido por professores da Universidade Federal do Amazonas indica que os índios reconhecem o nome “Sateré-mawé”, mas que o termo “Mawé” seria desconhecido por eles, e não significaria papagaio. Um índio entrevistado afirmou que a palavra era usada pelos brancos que não gostavam dos índios, e derivaria de “mau é”.

Costumes – Os jesuítas chegaram na região em 1659, com a fundação da missão de Tupinambarana, fazendo cessar o comportamento dos maués com os restos mortais de seus pares, que consistia na defumação do cadáver, mumificando-os, e uso de urnas funerárias, casas especiais, na companhia de ídolos de pedra.

A puberdade das suas mulheres e homens eram acontecimentos marcados com rituais de extremo valor na comunidade. Os homens eram submetidos à prova das formigas tucandeira – são instigados a colocarem as mãos (ou somente uma) em luvas de palha trançada infestadas dessas formigas – anteriormente capturadas em seu formigueiro pelos homens da tribo, embebidas com uma solução do extrato das folhas do cajueiro dentro de uma vasilha, serviço feito pelas mulheres, e depois inseridas dormentes nessa luva até acordarem na cerimônia, e assim durante o ritual, suporta-las durante pelo menos 15 minutos, enquanto todos os índios dançam ao redor em uma música cantada no idioma local. Em seguida, a luva é repassada ao índio do lado (que também deve aguentar os 15 minutos), e assim por diante, até passar por todos os adolescentes que estão a ingressar em vida adulta. É comum assim, passar o resto do ritual com as mãos inchadas e vários efeitos consecutivos, como febre, câimbra, vermelhidão nos olhos, etc.

Os maués mantinham um amplo comércio de guaraná, de objetos e ornatos de plumas. Por seu vasto e estabelecido comércio do guaraná estão no célebre mapa do padre Samuel Fritz, em 1691, bastante conhecido dos viajantes descidos do Alto Madeira e do Alto Arinos. Eram sedentários e de ânimo pacífico, valentes, corajosos, destemidos e vingativos. E defendiam a cultura pré colombiana, que tinha como fundamento o guaraná, vínculo a terra pela agricultura, onde teve sua origem mítica, na teimosa atitude de Uaçiri-Pot, o grande legislador da tribo.
A resignação e a audácia são características marcantes dessa tribo, tida por descendeste dos incas, descida do Altiplano Andino, já que apegada ao uso do “paricá” Mimosa acacioides, cultivando-o.

Em 1626, foi feito um reconhecimento do rio Tapajós e registraram-se mais de 35 mil índios, na Mundurucânia. Civilização – Os maués jamais se afeiçoaram aos portugueses. Comandaram às suas mulheres que não aprendessem a língua portuguesa. A principal prova dessa resistência a Carta Instrutiva que aos diretores das capitanias do Pará e do Rio Negro, datada de 3 de outubro de 1769, mandou o governador Fernando da Costa de Ataíde Teive, nesses resumidos termos:

—- “Ao cabo da canoa dará V. Mcê ordens em meu nome no acto da partida pa. o Sertão, de não entrar em rio aonde conste qe. se poderá encontrar com Índios da Nação Manguês, porq. tendo mostrado a experiência que esses miseráveis homens resistem as praticas que se lhe fizer, para caírem das trevas do paganismo, pela introdução das ferramentas, e outros gêneros que vão comerciar com elles; he necessário reduzi-los a necessidade, para delles tiremos os fructos de os descer, quando se virem preconizados, o q. ha de certamente vir a succeder, vendose destituídos do socorro que lhe aqui inconsideradamente lhes tem levado…”

Participaram ativamente da Cabanagem, de 1835 a 1840. Sob o comando do tuxaua Manuel Marques, atacaram Luzéa, matando os trinta soldados do destacamento militar e os moradores portugueses do lugarejo, transformando a vila em reduto cabano. O tuxaua Crispim Leão liderou os ataques a Andirá e Tupinambarana. No começo do século XX, fomentados pelas expedições dos seringueiros de Itaituba, aderiram e colaboraram, irrestritamente, com as forças militares do Estado do Amazonas, em 1916, no conflito armado travado contra o Estado do Pará, por conta de velha questão de limites entre essas duas unidades da federação.

Produção de Guaraná – Os maués foram os inventores da cultura do guaraná. Foram eles que transformaram a trepadeira silvestre em arbusto cultivado, com o plantio e o beneficiamento dos frutos. A primeira descrição do guaraná data de 1669, o mesmo ano em que houve o contato com o homem branco. O padre João Felipe Betendorf escreveu que “tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras”.

O uso desse fruto é considerado fonte de saúde e está ligado à terra cultivável, como é possível ver no discurso do tuxaua sateré-maué Manuel, em 1933: “O guaraná é bom para fazer chover, para proteger a roça, para curar doenças e prevenir outras, para vencer a guerra, no amor, quando dois rivais pretendem a mesma mulher”. O guaraná é o principal produto dos maués, pois é o que obtém maior preço no mercado. O guaraná produzido e beneficiado pelos índios (chamado guaraná da terra) é de qualidade superior ao do produzido pelos civilizados (chamado guaraná de Luzeia). Porém, o guaraná de Luzeia é produzido em escala muito maior. Enquanto os maués vendem no máximo duas toneladas de guaraná por ano, uma empresa na cidade de Maués afirma vender 40 toneladas por ano.

Na periferia urbana de Manaus, existem quatro comunidades sateré-maué: Y’Apryrehyt, Maué, I’nhã-bé e Waikiru.

Os índios em geral tem muita dificuldade em arranjar um emprego, e quando conseguem, trabalham como carregadores braçais, vendedores ambulantes de artesanato e doces regionais, ou como pedreiros na construção civil.

A maior parte da renda da comunidade Y’Apryrehyt, onde vivem 67 pessoas, vem do turismo. Muitas pessoas visitam a aldeia, interessadas em conhecer mais sobre o ritual da tucandeira ou comprar artesanatos. Assim, o ritual passou a ter caráter turístico, com valores estéticos e coreografias, mas ao mesmo tempo voltado para a sobrevivência dos índios.

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