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Intenção de consumo ganha mais tração em Manaus

Por Marco Dassori

3 de agosto de 2023 às 17:18 Compartilhe

A propensão de compras das famílias de Manaus ganhou ainda mais tração, em julho. Os dados locais da CNC (Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) para o indicador de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) revelam um 12º avanço consecutivo para a capital amazonense, em ritmo novamente superior ao da média nacional, e puxado pelos consumidores de baixa renda. No mês do Dia dos Namorados, foram registradas melhoras na percepção sobre renda e emprego. Mas, a disposição de adquirir bens duráveis perdeu ímpeto, diante da maior dificuldade de acesso ao crédito.

O ICF de Manaus marcou 87,1 pontos em julho, 4,4% a mais que em junho (83,4 pontos), e mais que o dobro da marca de 12 meses atrás (39,9 pontos). O indicador, no entanto, ainda não saiu da zona de insatisfação (de 0 a 100 pontos), onde permanece há 38 meses, ficando bem abaixo do nível atingido no início da pandemia –março de 2020 (105,2 pontos).  O ganho de otimismo foi maior entre as famílias de renda abaixo dos dez salários mínimos (+4,85%), embora estas ainda sigam sob a marca da desconfiança (82,1 pontos). O avanço para os consumidores mais abastados (139,1 pontos) foi mais baixo (+2,35%), mas estes já estão “confiantes” desde novembro de 2022.

Manaus voltou a ter desempenho mais forte do que o da média nacional. Em todo o Brasil, o indicador marcou expansão mensal de 2,8% e já tangencia a margem de confiança (99,3 pontos). No confronto com julho de 2022, houve nova escalada de dois dígitos (+23%). A CNC atribui o resultado à maior confiança dos consumidores brasileiros no emprego, indicando uma recuperação do consumo após a crise econômica causada pela pandemia. E destaca que, mais uma vez, o otimismo e a disposição às compras avançaram mais entre as mulheres (+27,8%) do que entre os homens (+21%).

Em Manaus, a nova alta de intenção de consumo soma-se à redução dos números locais da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), medido pela mesma entidade. Mas, a despeito da melhora, as compras seguem embarreiradas pelo comprometimento da renda das famílias com contas antigas. Ao menos 86,7% (568.307) das famílias da capital estão endividadas e 43,6% (285.571), inadimplentes. Já o Icec (Índice de Confiança do Empresário Comercial), também da CNC, quebrou cinco meses de baixa, ao mostrar uma retomada parcial do otimismo, alimentado pelas expectativas do setor, apesar do recuo nas intenções de contratar mão de obra.

Renda e emprego

O ICF de Manaus avançou em seis de seus sete componentes, na variação mensal. Mas, apenas dois deles já entraram no nível de satisfação, ambos ligados à vida profissional. As melhores taxas de crescimento vieram das perspectivas de consumo (+10,2%) e das avaliações sobre nível de consumo (+10,9%) e renda atuais (+8,2%). Já as percepções sobre as condições de emprego atual (+5,5%), perspectiva profissional (+2,6%) e “momento para duráveis” (+2,5%) subiram em ritmo bem menor. O dado negativo veio do acesso ao crédito (-5%).

O entendimento sobre o nível de consumo atual ainda é o principal fator que puxa a média de Manaus para baixo. Apesar dos aumentos seguidos, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (58,3 pontos) – embora as famílias com renda acima de dez mínimos tenham pontuação mais que duas vezes maior (132,5 pontos). Na média, nada menos do que 62,5% das famílias estão indo menos às compras do que no ano passado, enquanto 21,1% já dizem que estão comprando mais e 15,1% não veem diferença.

A pontuação da perspectiva de consumo (90,6 pontos) já aparece um pouco melhor, assim como a avaliação sobre a renda familiar atual (84,6 pontos). Para 43,1% das famílias de Manaus, as compras dos próximos meses devem vir menores que no ano passado. Outros 33,7% dizem que será maior, e 19,8% confirmam estagnação. Em paralelo, 41,3% dizem que a renda familiar piorou em relação ao cenário de econômico de 12 meses atrás. Só 25,9% viram melhora e 31,9% consideram que está igual.

Na outra ponta está avaliação sobre a perspectiva profissional (102,9 pontos). A fatia de consumidores que preveem melhora nos próximos seis meses (45,7%) aumentou sua vantagem em relação aos que têm opinião contrária (42,8%), mas 11,6% estão indecisos. O mesmo se dá sobre a situação atual do emprego (101,3 pontos). Os grupos dos que se sentem “mais seguros” profissionalmente, (29,7%) estão praticamente empatados com os que se dizem “menos seguros” (28,4%), ao passo que 22,3% entendem que está igual. Mas, a cota de desempregados voltou a subir e está em 19,1%.

Em termos de situação atual do crédito (85,7 pontos), 44,2% consideram que o acesso ainda está mais difícil do que no ano passado. Em contrapartida, 29,9% já apontam que ficou mais fácil e 22,3% não veem diferença. Apesar do Dia dos Namorados, o “momento de aquisição de bens duráveis” (85,8 pontos) avançou pouco e 53,4% ainda consideram que esta não é a melhor hora para isso. O grupo dos que têm opinião contrária subiu para 39,3%. As dificuldades e cautelas ainda predominam entre as famílias de menor renda.

“Momento de transição”

O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que a intenção de compras está aumentando, mas salientou que isso ocorre “em pequena escala”, enquanto a renda “deixa muito a desejar” e o endividamento permanece alto.

“Este é um momento de transição. Estamos passando do primeiro para o segundo semestre, o que sinaliza melhorias para a economia. Agora, dependemos de uma série de medidas. Uma delas é o programa Desenrola, que vai começar a ‘desnegativar’ as famílias e melhorar o índice de confiança do consumidor. Isso é positivo. Mas, acho que a retomada do crescimento da economia ainda vai demorar um pouquinho”, ponderou.

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, O presidente da entidade, José Roberto Tadros, ressaltou que “o aumento da confiança no emprego se reflete na maior satisfação com o nível de consumo atual e na perspectiva de consumo no curto prazo”, acrescentando que consumo das famílias também foi favorecido pela “inflação corrente anual em queda” e pela “renda disponível maior”.

O dirigente ressalvou, contudo, que o endividamento elevado, os juros altos e o acesso ao crédito restrito ainda se mostram como obstáculos à expansão e consolidação do consumo. “Temos a confiança de que a redução da inadimplência com o programa Desenrola, do governo federal, e a queda dos juros, esperada para o terceiro trimestre, facilitem o acesso ao crédito e estimulem o consumo das famílias brasileiras nos próximos meses”, encerrou.

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