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Competitividade ESG

Sustentabilidade e ESG na renovação da atividade empresarial amazonense

Oportunidades ao invés de restrições, investimento ao invés de custo

27 de outubro de 2023 às 12:41 Compartilhe

Sustentabilidade e ESG na renovação da atividade empresarial amazonense

Oportunidades ao invés de restrições, investimento ao invés de custo

Marcos Rehder Batista*

 

Em meados deste mês aconteceu em Manaus a primeira edição da Campus Party Amazônia, entre os dias 11 e 15. Estiveram presentes personalidades como Philip Fearnside (Nobel da Paz de 2007), Bruce Dickinson (banda Iron Maiden) e Ramon Pires (Unicamp), e foi certamente um momento disruptivo na formação de uma ecossistema regional de inovação. Segundo o espaço da Fundação Rede Amazônia no Portal Amazônia, um dos destaques do evento foi a palestra de Michelle Guimarães sobre a adoção de práticas de governança ambiental, social e coorporativa em startups (em inglês, Environmental, Social, and Governance – ESG), tema que permeou várias outras apresentações.

Muitas vezes confundidas com apoio empresarial a projetos sociais e ambientais, pedagogicamente importantes, mas que pouco alteram os produtos, processos e a interação das firmas em suas respectivas cadeias de valor, critérios ESG são medidas de como tudo que gira em torno das atividades fins das empresas (e seus parceiros) não apenas se adaptam à exigências de Desenvolvimento Sustentável, como também orientam como elas podem lucrar com isso. Tratam-se de padrões fundamentais quando se pensa em uma transformação da economia amazônica, principalmente se esta for direcionada para a formação de um pólo de bioeconomia. É usada como sistema de avaliação pela B3, por arenas internacionais de negócio e até mesmo pelo Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (vide Acórdão 1697/2023, Processo 15.100/2021, de 29/9/2023).

O objetivo aqui é lançar os olhos para quais de fato são os critérios ESG, abordagem de avaliação institucional que começou a ganhar forma no final do Séc. XX, foi abraçada pelas Nações Unidas em 2004 e ganhou um padrão definitivo em 2011, através do modelo universalizador Sustainability Accounting Standards Board (SASB), oficialmente sob responsabilidade do International Integrated Roporting Concil (IIRC). Neste padrão considera-se 5 fatores: meio ambiente, capital social, liderança e governança, modelo de negócio e inovação e capital humano.

No que tange ao meio ambiente, uma empresa que segue os parâmetros ESG controla e mitiga os impactos sobre a qualidade do ar e emissão de carbono em sua atividade, cuidados que garantem credenciais internacionais e tem impacto positivo sobre a imagem. O bom gerenciamento do uso de energia, de saneamento básico e uso da água não apenas soma-se ao fortalecimento da marca, como também aponta para menores gastos com fatores de produção, pois levam a um uso mais efetivo dos recursos usados na produção.

Do ponto de vista social (capital social), observa-se o respeito aos direitos humanos tanto para funcionários quanto clientes e parceiros, algo fundamental para a criação de um bom ambiente de trabalho e de relacionamento. Ao enfatizar a importância da segurança de dados e privacidade, não apenas gera confiança, como induz a uma maior efetividade no armazenamento e processamento de informações, base da chamada Economia 4.0. Cuidados com questões logísticas e qualidade do produto, além de práticas de vendas preocupadas com o bem-estar, sabidamente são fundamentais para que a empresa tire os melhores resultados do mercado onde está inserida.

Fechado os três primeiros fatores, o “Governance” da ESG (Liderança e Governança), podemos dividir em duas preocupações fundamentais: postura em relação aos concorrentes e em relação ao sistema em um espectro mais amplo. É necessário que a empresa deixe claro em suas ações o respeito a padrões éticos reconhecidos pelos pares e tenha um comportamento não monopolista, garantindo a competição de mercado. Em relação ao sistema, deve ser assertiva sobre seu controle de riscos financeiros e ambientais, assegurando o bem-estar de todos os stakeholders.

Complementarmente, há 2 pontos fundamentais na economia contemporânea: inovação e conhecimento (capital humano). A necessidade de inovação tecnológica e gerencial tornou-se o cerne para a sobrevivência e crescimento de qualquer negócio, focadas na mitigação dos resíduos e no aprimoramento da inserção nas cadeias de valor. A atenção com a formação e a qualidade de vida dos seus colaboradores, o chamado Capital Humano, é um requisito básico, tanto na sua educação formal quanto na garantia de condições saudáveis para que estes possam aprender-fazendo dentro da própria instituição ou no setor de atividade.

Expus aqui apenas alguns pontos na tentativa de contribuir para que os critérios de sustentabilidade discutidos internacionalmente, em seu formato estabelecido para a unidade que faz tudo acontecer – as empresas -, possam ser vistos menos como restrições e mais como oportunidades para um novo direcionamento do desenvolvimento, um novo projeto de parque industrial e um novo paradigma de negócios, mais lucrativo no longo prazo. Por consequência, tive também como objetivo ajudar a elucidar que os gastos para se atingir os critérios ESG podem deixar de ser vistos como custo e passarem a constar com investimento, que traz retornos.

Se o empresariado amazonense busca um caminho para se repensar, dar um pouco de atenção à estes parâmetros pode ser uma orientação extremamente fértil, que coloque as atenções do mundo não apenas pela floresta que possuem, mas como referência de uma nova economia mundial. Futuramente voltarei ao tema, falando especificamente sobre o Índice de Sustentabilidade Empresarial, correlato da governança ESG mais importante em território nacional, desenvolvido pela antiga Bovespa (atual B3).

 

*Marcos Rehder Batista, pesquisador do Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente (NEA+/IE-Unicamp), do SP in Natura Lab (FCA-Unicamp) do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG/EAESP-FGV)

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