Por negócios biotecnológicos na Amazônia: nosso Bioeldorado
Marcos Rehder Batista
Na semana do Dia da Amazônia, duas notícias publicadas no site do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/MCTI – chamaram a atenção: proposta de aumento significativo no orçamento do Instituto para 2024, pleiteado no Projeto de Lei Orçamentária do próximo ano (R$ 41.800.000,00, ante R$ 36.751.867,00 aprovados para este ano); e a divulgação do evento “Inovação na Praça”, a ser realizado no dia 22 deste mês, no bairro Aleixo, em Manaus, pela Coordenação de Gestão da Inovação e Empreendedorismo (Cogie) da instituição. O incremento orçamentário desejado será usado para contratação de pesquisadores e melhorais de infraestrutura, algo fundamental para o bom andamento das pesquisas. Em todo caso, se estes esforços não estiverem voltados para a geração de riquezas com a “floresta em pé”, a pesquisa científica torna-se pouco mais que uma coleção de páginas, e é neste ponto que o evento a ser realizado no final do mês ganha um significado, principalmente por ser divulgado na semana em que foi.
Organizado em parceria com a Universidade de São Paulo, que enviará pesquisadores na área de química e farmácia, e com o Arranjo NIT da Amazônia Ocidental – Arranjo AMOCI, uma rede de colaboração entre instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa dos Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, o “Inovação na Praça” olha para a tecnologia, aproveitamento econômico dos recursos humanos e naturais. O objetivo será promover uma experiência de intercâmbio voltada para o empreendedorismo científico direcionado à criação de startups e fortalecimento do Ambiente de Inovação, nitidamente apropriado ao uso sustentável do potencial natural da região. É louvável que a principal ação divulgada pelo INPA esteja diretamente de acordo com a emergente incorporação da agenda da bioeconomia no Pólo Industrial de Manaus (PIM), uma alternativa fortemente em sintonia com novas demandas da economia mundial e de um potencial gigantesco (argumentar sobre a biodiversidade de nossa floresta equatorial seria redundante, é a maior do Planeta).
Uma série de iniciativas que buscam pensar a Floresta Amazônica como negócio vem sendo consolidadas recentemente, como: a mudança jurídica no Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), que passou a ser uma OS coordenadora de um consórcio composto pela FUEA, UEA (ambas do Amazonas) e IPT (de São Paulo); o “Plano de Bioeconomia do Estado do Pará” – primeiro plano estadual brasileiro nesta agenda; e o Distrito Bioagroindustrial da Amazônia (Biodarpe), inaugurado em Rio Preto de Eva como projeto piloto a ser disseminado pelo Estado. São projetos que podem ser difundidos, inclusive, para outras unidades da Federação na Região Norte, dado que, fora das capitais, compartilham de oportunidades semelhantes (ou, pelo menos, comparáveis) para a promoção do Desenvolvimento Sustentável.
De fato, existem vários desafios para a transformação da “floresta é pé” em negócios, muitos deles já muito bem tratados neste espaço pelo economista Osíris M. Araújo da Silva, a quem tenho um débito incomensurável, cujos artigos permitiram um primeiro contato com as principais questões em voga no meio empresarial manauara, calibrando estas pautas para a construção de uma agenda de pesquisa e reflexão. Diante das transformações possíveis caso se escolha o caminho da bioeconomia como nova agenda de desenvolvimento (sem excluir os demais), parece urgente um aprimoramento institucional capaz de articular a região em todo o seu território legal, para uma otimização dos potenciais não apenas focada na diversidade de produtos, mas em inovação de processo, pois tal transformação pode proporcionar o domínio de toda a cadeia de valor.
Esta independência demanda, sobretudo, da pesquisa científica sobre insumos de origem local, um incremento de agregação de valor revolucionário em nível mundial – sim, estou falando que o mundo verá a Amazônia como modelo econômico e não como foco de restrições e controle. Este é o motivo pelo qual chamou tanto a atenção o fato de a notícia do INPA logo após o 5 de setembro ser sobre inovação, empreendedorismo, orientação para microempresas de base tecnológica, uma parceria entre uma instituição de pesquisa pública brasileira que figura entre as mais conceituadas do mundo e uma rede de parceria científica da Região Norte.
A mitigação das desigualdades regionais não pode concentrar-se nas vulnerabilidades nem no protecionismo exagerado, mas em parcerias com os demais estados, onde as potencialidades precisam ter o protagonismo. A Floresta Amazônica não pode ser um entrave para quem mora e trabalha dentro de seu território, mas oportunidade, tanto para os pequenos quanto para os grandes. Também não pode resumir-se a objeto de negociação para o resto do país, mas uma atração para investidores empresariais de todos os cantos de nosso mapa (e de fora do Brasil também… para não falar do PIM). Um aumento nos investimentos federais na região é salutar; se for para um caminho que inove e agregue valor, melhor ainda. Podemos estar diante de um novo Bioeldorado.
Marcos Rehder Batista, pesquisador do Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente (NEA+/IE-Unicamp), do SP in Natura Lab (FCA-Unicamp) do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG/EAESP-FGV)
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