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“Recordes do Governo Lula”

Por Osíris M. Araújo da Silva

3 de fevereiro de 2025 às 13:46 Compartilhe

A propósito da zona de perigo em que se encontra a economia brasileira, o descompasso político, os choques entre poderes e entre áreas ministeriais e a baixa popularidade do presidente da República, levantei alguns dados conjunturais que bem expressam o preocupante baixo desempenho da gestão pública, entregue a 37 ministérios, cada vez mais distante das promessas de Lula da Silva ao tomar posse de seu terceiro mandato presidencial.

Alguns aspectos examinados estão a seguir relacionados.

Recuperação Judicial

O Brasil registrou, em 2024, o maior número de recuperações judiciais da série histórica da Serasa Experian, com 2.273 empresas adotando um regime especial para se reestruturar financeiramente. Em relação a 2023, o índice aumentou 61,8%, quando 1.405 empresas entraram em recuperação. A última vez que a Serasa registrou volume semelhante de empresas em recuperação foi em 2016, governo Dilma Rousseff, com 1.863 empresas.

Déficit público em alta

As contas do governo central, no exercício de 2024, englobando Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social, registraram um rombo de R$ 5,3 bilhões em setembro deste ano, informou o Tesouro. O déficit do mês ficou acima da mediana das expectativas do relatório Prisma Fiscal, que esperava um resultado negativo de R$ 2 bilhões. Em setembro de 2023, foi registrado um superávit de R$26,2 bilhões.

No acumulado do ano, de janeiro a setembro, o rombo chega a R$ 105,2 bilhões. No mesmo período de 2023,o valor ficou deficitário em R$ 94,3 bilhões. Segundo o Tesouro, as despesas aumentaram e as receitas diminuíram principalmente por uma queda de R$ 28,3 bilhões nas receitas não administradas pela Receita Federal. Em doze meses, o resultado primário do governo central (até setembro/24) foi de déficit de R$ 245,8 bilhões, equivalente a 2,12% do PIB, segundo o Tesouro Nacional.

Déficit nas contas externas

O rombo das contas externas brasileiras mais do que dobrou no ano de 2024, segundo informações divulgadas pelo Banco Central (BC) na sexta-feira, 24. De acordo com o BACEN, o saldo das transações internacionais do país  (transações correntes) registrou um déficit de US$ 55,96 bilhões ano passado em comparação com US$ 24,51 bilhões em 2023. O maior resultado negativo para um ano fechado desde 2014, quando o déficit somou US$ 110,69 bilhões ( governo Dilma Rousseff).

Juros em alta

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu nesta quarta-feira (29) aumentar a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. É a segunda alta consecutiva dessa magnitude.

A decisão unânime dos nove membros do Copom já era esperada pelo mercado financeiro, uma vez que, em dezembro, o comitê avisou que poderia realizar mais duas elevações de 1 p.p. nas reuniões de janeiro e março, chegando a 14,25% ao ano no final do primeiro trimestre de 2025, para tentar domar a inflação.

O aumento da taxa de juros encarece principalmente o crédito e os serviços financeiros. Em síntese, fica mais alto o custo dos empréstimos pessoais e para empresas, dos financiamentos imobiliários e para a compra de veículos.

Fuga de capitais

Investidores estrangeiros retiraram R$ 25,9 bilhões da bolsa de valores brasileira em 2024. Os dados foram reunidos em um levantamento da consultoria Elos Ayta, que aponta esta como a maior fuga de capital desde pelo menos 2016, ano em que a B3 começa a disponibilizar os dados consolidados utilizados no estudo.

Segundo o levantamento, o saldo negativo de investimentos estrangeiros no país — ou seja, a retirada de capital maior do que entrada — só foi registrado anteriormente em dois anos antes de 2024: em 2019, com R$ 6,5 bilhões negativos, e em 2018, com R$ 4,83 bilhões.

Inflação dispara

O Brasil teve a 5ª maior inflação de alimentos entre os países do G20 –grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo– em 2024. A taxa foi de 7,69% no ano passado, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na variação anual, o país só se saiu melhor que Argentina (94,7%), Turquia (43,6%), Rússia (11,1%) e Índia (8,4%). Os dados são de levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating com exclusividade para o Poder360.

No plano interno, enquanto o governo federal estuda medidas para tentar atenuar a alta dos preços dos alimentos no País, três cidades pesquisadas pelo IBGE registraram aumento de dois dígitos da alimentação em domicílio em 2024: Campo Grande (MS), com 11,3%, Goiânia (GO), com 10,65%, e São Paulo (SP), que teve aumento de 10,07%, segundo microdados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Porto Alegre, por outro lado, registrou a inflação de alimentos mais baixa, de 2,89%, em função da forte oferta de produtos alimentícios na região, com a ajuda recebida após as chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado (veja o gráfico abaixo com a variação nas 16 cidades pesquisadas pelo IBGE).

Arrecadação recorde. Para onde vai a dinheirama?

O governo federal registrou uma arrecadação recorde em 2024. As receitas somaram R$ 2,65 trilhões, uma alta de 9,62% em relação ao ano anterior, já descontado o efeito da inflação, segundo dados anunciados nesta terça-feira (28) pela Receita Federal. Só no mês de dezembro, as receitas somaram R$ 261,3 bilhões, um aumento real de 7,78% em relação a igual mês de 2023. Nesta comparação o resultado também é o melhor para o mês na série histórica, iniciada em 1995.

Popularidade de Lula em queda

Segundo pesquisa da Genial/Quaest divulgada na segunda-feira, 27, na comparação com o último levantamento, realizado em dezembro, a aprovação do governo Lula da Silva 5 pontos porcentuais, de 52% para 47%, e pela primeira vez ficou atrás do porcentual dos que reprovam a atual gestão, com evidente viés de baixa para o governo. O mesmo levantamento registra que a desaprovação do presidente chegou a 49% e superou a aprovação pela primeira vez desde o início do governo. A inflação de alimentos explica parte dessa piora nos números.

A perda de popularidade do governo no Nordeste chamou a atenção de analistas, já que a região foi decisiva para a vitória de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. Segundo a pesquisa Quaest, desde outubro o número dos que desaprovam a gestão Lula na região saltou de 26% para 37%.

Trata-se da mais significativa desaprovação ao trabalho de Lula desde o início do terceiro mandato, resultado até natural ante a corrosão constante de sua popularidade, que os petistas invariavelmente creditam aos culpados habituais – a alegada desordem deixada pelo antecessor, Jair Bolsonaro, as fake news e as big techs, a comunicação do governo e uma suposta incapacidade da população de perceber as virtudes do atual governo.

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