Em 2024, o setor comercial brasileiro enfrentou uma verdadeira montanha russa. No segundo trimestre, tivemos alguns sinais de recuperação econômica, refreados nos últimos meses por desafios estruturais e macroeconômicos, que continuam a exigir cautela dos empresários e investidores.
De acordo com os últimos relatórios do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Banco Central do Brasil (BCB), as expectativas para o restante de 2024 apontam para uma recuperação gradual, porém com nuances importantes que influenciarão diretamente as perspectivas para 2025.
Após um período de alta inflação, o Banco Central conseguiu controlar a escalada dos preços, com uma projeção para setembro do acumulado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em torno de 4,3%. Esse controle da inflação tem permitido a flexibilização gradual da política monetária, com a taxa Selic atualmente em 10,75%. Essa redução nas taxas de juros vem impulsionando o crédito, o que é um alívio bem-vindo para o setor comercial, que estava sofrendo com os altos custos de financiamento e, consequentemente, com a retração do consumo.
No entanto, a recuperação do consumo interno está longe de superar seus obstáculos. O governo federal ainda não alcançou soluções para a alta dos preços, em conjunto com uma renda familiar comprimida e o desemprego, embora com uma taxa de 6,9%, que ainda é elevado, fatores esses limitantes à capacidade de compra da população.
Setores como o varejo e o comércio de bens duráveis continuam a sentir os efeitos dessa dinâmica.
Para os meses restantes de 2024, a expectativa é de um aumento sazonal nas vendas, especialmente com a chegada das festas de final de ano. O setor comercial espera um crescimento moderado, impulsionado por eventos como a Black Friday e as festas natalinas. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projetam um crescimento de 2,1% nas vendas no varejo em relação ao ano anterior, o que pode ajudar a recuperar parte das perdas sofridas durante o primeiro semestre de 2024.
De sua parte, o comércio eletrônico segue com tendência de alta nas vendas. Já o comércio com lojas físicas continua enfrentando desafios mais críticos, especialmente em segmentos como vestuário e eletrodomésticos.
Ao se pensar em cenários para 2025, tanto o IPEA quanto o Banco Central do Brasil indicam um crescimento moderado, mas com um ambiente econômico mais favorável do que em 2024. O PIB brasileiro deve crescer em torno de 2,4%, de acordo com as projeções mais recentes, impulsionado pela retomada gradual da economia global e por políticas internas voltadas ao estímulo do consumo e investimento.
A continuar a queda da taxa Selic, o custo do crédito para as empresas pode reduzir ainda mais, incentivando novos investimentos e expansão das operações.
O setor comercial, em particular, pode esperar um ambiente mais favorável para crescimento, especialmente em segmentos como tecnologia, alimentos e bebidas, que têm demonstrado resiliência mesmo em momentos de maior incerteza econômica.
No entanto, a trajetória de crescimento está longe de ser isenta de riscos. Um caminho sustentável à recuperação econômica depende da capacidade do governo em controlar os gastos públicos, manter a inflação sob controle e promover reformas estruturais, a exemplo da tributária e da administrativa, que melhorem a produtividade e a competitividade do país.
Além disso, a evolução do cenário global, com incertezas em torno da economia chinesa e a possível desaceleração nos Estados Unidos, poderá impactar negativamente as exportações e, consequentemente, o mercado interno.
Entre os fatores que poderão impulsionar o crescimento do setor comercial em 2025, pode-se destacar:
- Crescimento do crédito: Com a redução da taxa de juros, a tendência é que o crédito para consumo e investimento seja ampliado, o que poderá estimular a demanda e fomentar o crescimento das vendas, especialmente no varejo de bens duráveis e no setor imobiliário;
- Estabilidade da inflação: A manutenção da inflação em patamares controlados permitirá maior previsibilidade para o planejamento financeiro das empresas e para o poder de compra das famílias;
- Inovações tecnológicas: O comércio eletrônico e as novas tecnologias, como a adoção de inteligência artificial e a automação de processos, continuarão a transformar o setor comercial, criando oportunidades de crescimento e eficiência. Vale a pena investir nesses fatores; e
- O incremento do empreendedorismo: Embora o desemprego venha caindo, a criação de empregos formais ainda é insuficiente, criando a tendência do empreendedorismo, setor que merece melhor atenção do governo federal, especialmente com investimentos em informação desses novos empresários, para que possam ter um crescimento sustentável, com visões como planejamento, estratégia, investimentos prioritários e noções de direito empresarial.
A verdade é que vem sendo despertado na população mais humilde o desejo de depender cada vez menos do poder público, a exemplo dos motoristas de aplicativos, que em nada apoiaram a iniciativa do governo federal em relação às obrigações previdenciárias que se pretendia impor às empresas contratantes do segmento. Na mesma direção, os sindicatos laborais tem caído em descrédito, exigindo do Executivo atual a compreensão sobre esses aspectos, sob pena de perder sua base eleitoral.
Mesmo com um cenário positivo para 2025, o desempenho efetivo do setor comercial dependerá da capacidade do governo em equilibrar suas contas públicas, como um freio ao repasse tributário ao consumo das famílias (seja no ambiente existente, seja com a implementação da reforma tributária).
Em síntese, o setor comercial brasileiro tem pela frente meses de desafios e oportunidades. As expectativas para o final de 2024 são de uma recuperação lenta, mas a consolidação de um cenário mais positivo para 2025 depende de fatores tanto internos quanto externos. A moderação e o planejamento estratégico serão essenciais para que o comércio continue a crescer e superar as adversidades.