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O impasse amazônico: como construir a terceira natureza e promover o desenvolvimento sustentável da região

Por Osíris M. Araújo da Silva

4 de fevereiro de 2025 às 16:20 Compartilhe

As limitações tecnológicas da região são por demais conhecidas. Os cientistas estão motivados para promover esta mudança e ela é possível. A Embrapa, por exemplo, foi protagonista de três revoluções tecnológicas, como a produção de agroenergia, a viabilização da agricultura nos cerrados e a domesticação de plantas amazônicas (seringueira, guaraná, cupuaçu, castanha do pará, açaí, bacuri, etc.). Ao mesmo tempo, a engenharia nacional domina a exploração de petróleo em alto-mar e a fabricação de aviões regionais, que são exemplos da capacidade nacional de promover uma revolução tecnológica na Amazônia, desenvolvendo uma agricultura tropical com sua flora e fauna. Na Amazônia Legal, 83% das propriedades são de pequenos produtores, dos quais metade encontram-se em razoáveis condições de vida. O desafio está em encontrar oportunidades produtivas para outra metade, representada pelos colonos assentados, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e populações tradicionais que apresentam baixo padrão de vida.

Estas são algumas das conclusões a que chegou o pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, em seu estudo “Construindo a Terceira Natureza na Amazônia”. O desafio, segundo ele, relaciona-se às tecnologias agrícolas e ambientais que precisam ser desenvolvidas nos próprios locais para integrar o conhecimento local com a capacidade tecnológica de nosso País. A falta dessa integração reflete-se na redução dos recursos naturais, na importação de alimentos e na geração de emprego e renda. Homma defende a tese de que as alternativas agrícolas mais sustentáveis para a região amazônica dependem do estabelecimento de um novo padrão tecnológico.

Para isso, “é necessário efetuar um grande esforço de ampliação da fronteira do conhecimento científico e tecnológico, com resultados para os pequenos, médios e grandes produtores. O atual sistema de financiamento de pesquisa e de avaliação dos pesquisadores tem prejudicado a pesquisa agrícola por exigir longo tempo. A redução dos impactos ambientais e a geração de emprego e de renda vão depender da mudança das propostas usuais, como extrativismo vegetal, venda de créditos de carbono e atividades tradicionais, defendidas pelas organizações não governamentais e entidades externas. Aproveitar as áreas desmatadas com atividades produtivas mais adequadas é mais importante para o conjunto da população do que o retorno à floresta”.

Esta mesma solução, aponta o estudo, “precisa ser encontrada para os problemas ambientais e agrícolas na Amazônia, com a criação de alternativas tecnológicas e econômicas em vez da criação de mercados difusos ou artificiais, como a venda de créditos de carbono. A população precisa de alimentos e matérias-primas com menor dano ambiental. A Amazônia Legal concentra mais de 104 milhões de bovinos (44,51%) do país, em 2022, sendo que Mato Grosso tem o maior rebanho estadual (14,61%), o Pará o segundo (10,57%) e Rondônia o sexto (7,55%). Em termos de rebanho bubalino, a Amazônia Legal concentra 75,25% do efetivo nacional estimado em 1.598 mil reses, destacando-se os estados do Pará e do Amapá, salienta o pesquisador”.

O estudo conclui afirmando que “a Amazônia precisa aumentar sua produtividade agrícola para reduzir a pressão sobre os recursos naturais, promover a domesticação de plantas potenciais e substituir importações (interna e externa) de produtos tropicais (borracha, dendê, café, cacau, açúcar, arroz, leite, aves, ovos, hortaliças, etc.) e incentivos à recuperação de áreas que não deveriam ter sido desmatadas. Os problemas ambientais na Amazônia não são independentes, mas conectados a outras partes do País e do mundo e sua solução vai depender da utilização parcial da Segunda Natureza e de um forte aparato de pesquisa científica e de extensão rural”.

As análises de Homma conduzem a uma constatação óbvia, ou seja, a “necessidade de se construir o futuro da Amazônia em um cenário sem desmatamento ilegal e queimadas, independentemente de pressões externas, gerando alternativas tecnológicas e econômicas em relação ao uso de recursos da flora e da fauna sobre os quais impõe-se concentrar ações de planejamento econômico e agroflorestal. Espera-se que a realização da COP 30 venha a se tornar um marco decisivo para a Amazônia, não como um torniquete para as atividades produtivas, mas a partir de uma agricultura tropical mais sustentável para a região, que tem potencial real de resgatar mais de 11.300.000 brasileiros amazônidas da sua atual condição de pobreza, salienta o estudo.

O documento projeta, por fim, que a COP 30, a se realizar no mês de novembro deste ano em Belém, PA, possa se tornar um marco decisivo para a Amazônia, “não como um torniquete para as atividades produtivas, mas que é possível uma agricultura tropical mais sustentável para a região a qual tem potencial real de resgatar mais de 11.300.000 brasileiros amazônidas da sua atual condição de pobreza”.

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