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Confiança do comércio de Manaus registra nova queda

Por Marco Dassori

17 de março de 2023 às 14:34 Compartilhe

O otimismo dos comerciantes de Manaus perdeu força pelo terceiro mês consecutivo, em fevereiro. Os dados locais do ICEI (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), medidos pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), já haviam mostrado inflexão negativa desde dezembro, a despeito da alta nas vendas de Natal, e em sintonia com as incertezas sobre o arcabouço fiscal do novo governo federal. A perda de confiança acompanhou a média nacional, e se disseminou nas avaliações sobre estoques, nas expectativas sobre a economia e nas intenções de contratar e investir.

 

Foto: Patrick Marques/G1 AM

 

Ainda assim, a pesquisa indica que os comerciantes de Manaus seguem otimistas, ainda que em menor grau. O indicador registrou 128,6 pontos, em uma escala na qual valores acima de 100 pontos indicam satisfação. O número ficou 5,37% abaixo de janeiro de 2023 (135,9 pontos), embora tenha superado em 5,24% o dado de 12 meses atrás (122,2 pontos). Na média brasileira, o indicador tombou 1,4%, no terceiro declínio consecutivo, chegando aos 115,4 pontos – o pior número desde agosto de 2021. No confronto com o mesmo mês de 2022, a retração foi de 3,3%.

 

Vale notar que levantamento recente do Ifpeam (Instituto Fecomercio de Pesquisas Empresariais do Amazonas) mostra que 86,7% dos empresários do comércio do Amazonas esperam que o primeiro semestre – que só conta com o Dia das Mães e o Dia dos Namorados – apresente situação econômica melhor do que a do mesmo período de 2022. Outras pesquisas da CNC mostram, por outro lado, que o aumento contínuo na intenção de consumo das famílias de Manaus, foi acompanhado por uma progressão substancial nas taxas locais de endividamento e inadimplência.

 

Contratações e investimentos

 

Todos os nove subcomponentes do indicador de confiança do comerciante mostraram derretimento mensal em Manaus, no mês passado, e dois deles estão no nível de insatisfação. As pioras mais acentuadas vieram da avaliação das condições atuais da economia brasileira (-9,6% e 80,1 pontos) – que já trocou de sinal – e das expectativas em torno da mesma (-8% e 151 pontos). Na sequência estão os indicadores de contratação de funcionários (-7,8% e 124,4 pontos) e de investimento das empresas (-7,7% e 112,4 pontos).

 

As percepções sobre o momento atual do comércio (-2,6% e 107,9 pontos) e da empresa (-3,9% e 107,7 pontos) não são muito melhores, assim como as perspectivas sobre o setor (-3,1% e 161,4 pontos) e o próprio negócio (-4% e 164,6 pontos). O menor recuo foi sentido no subíndice relativo à situação atual dos estoques (-1,1% e 90,1 pontos), que há meses se apresenta como ponto crítico nos levantamentos da entidade.

 

A sondagem mostra que diminuiu o percentual de varejistas locais que consideram que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco” (36,2%) e que “melhorou muito” (21,8%), enquanto as proporções de empresários que consideram que a economia piorou um pouco” (19,7%) ou “piorou muito” (22,6%) aumentou. As avaliações majoritárias sobre o setor e a empresa ainda são de melhora relativa (45,9% e 51,7%), mas também declinaram. Empresas com mais de 50 empregados e que vendem bens não duráveis são as mais confiantes.

 

Embora as apostas tenham voltado a esfriar em fevereiro, a avaliação predominante ainda é que a economia brasileira vai “melhorar muito” (43,9%), em detrimento dos que cravam que vai “melhorar um pouco” (28,9%). Mas, as fatias respectivas dos que acreditam que vai “piorar um pouco” (14,4%) e que vai “piorar muito” (12,8%) voltaram a subir. As avaliações que pesam mais para o setor e a empresa também são de progressos mais significativos (46,9% e 50,7%, na ordem).

 

A parte majoritária dos comerciantes locais ainda aponta que as contratações devem “aumentar pouco” (41,6%), seguida de longe pelos 24,7% que ainda avaliam que pode “aumentar muito”. Assim como no mês passado, a projeção predominante para investimento é que será “um pouco maior” (36,9%), embora 23,2% já digam que será “um pouco menor”. Sobre os estoques, 57,6% consideram que está “adequado”, mas cresceu a parcela de lojistas que indicam que está acima dessa marca (22,1%), ou que está abaixo do ideal (18,1%).

Inflação e juros

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços de Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, argumenta que, a despeito das dificuldades, há motivos para renovar o otimismo. “Tivemos um 2022 difícil, que aumentou o preço das mercadorias e os juros bancários, o que gerou mais endividamento e inadimplência. Não obstante, a economia está se movimentando e se recuperando. O próprio governo está induzindo os bancos a renegociar as dívidas, ao mesmo tempo em que o setor vai se reorganizando e mantendo seus empregos. As crises vêm e nós nos reinventamos”, sintetizou.

 

Em texto da assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, destaca que diversos fatores impactaram na nova redução do ICEC para todo o país. “A desaceleração da atividade econômica e das vendas no varejo, que provocaram uma piora nas avaliações sobre a economia e o setor do comércio, vem acompanhada de inflação ainda fora da meta, juros elevados e perda de fôlego nas contratações formais de trabalhadores”, asseverou.

 

No mesmo texto, a economista responsável pela análise da pesquisa, Izis Ferreira, observa que a pretensão dos empresários brasileiros de investir no capital físico e na expansão dos negócios é a menor em dez meses, com 47% dos tomadores de decisão afirmando que reduzirão suas aplicações nos negócios. “Os juros altos alavancaram os negócios e o grande varejo acendeu um alerta para uma possível crise de crédito no setor”, sentenciou.

 

A economista indica que os lojistas de todos os segmentos do varejo brasileiro consultados expressaram que vão enxugar seus aportes, com destaque para a queda mais expressiva em fevereiro, de 3,4%, entre os varejistas de produtos duráveis. Com isso, o indicador atingiu a zona de pessimismo, com 98,5 pontos. “Com a inadimplência elevada e a inflação desancorada, os juros permanecerão elevados este ano, reverberando negativamente no consumo de bens dependentes do crédito”, encerrou.

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