Imprensa

Notícias

Economia

Comércio do Amazonas aposta nas vendas do Natal para salvar ano difícil

Por Marco Dassori

22 de dezembro de 2023 às 16:02 Compartilhe

O varejo do Amazonas tombou pelo segundo mês consecutivo em outubro, em sintonia com o agravamento da crise da vazante. Mesmo favorecidos por dois dias a mais, os lojistas tiveram resultado 0,3% mais fraco do que setembro, reforçando as perdas daquele mês (-0,5%). Foi o quarto dado negativo do ano, nesse tipo de comparação. O confronto com o mesmo período de 2022 apontou queda de 0,8% para o movimento no mês do Dia das Crianças, dilapidando os ganhos dos acumulados do ano (+3,7%) e dos 12 meses (+2,9%).

A desaceleração acompanhou a média nacional. A variação mensal do varejo brasileiro também retraiu 0,3%, em um mês positivo apenas para a venda de remédios, livros, papelaria e outros artigos de uso pessoal. Houve elevação sobre outubro de 2022, mas ela não passou de 0,2%, mantendo os acumulados dos dez meses (+1,6%) e 12 meses (+1,5%) no campo positivo e decrescente – e abaixo do patamar do Amazonas. No Estado e no país, segmentos de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito se saíram ainda pior. É o que revela a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

Com isso, a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) reduziu sua projeção de crescimento para o varejo brasileiro neste ano, de 2,4% para 1,8%, e aguarda alta de apenas 1,5% em 2024. Mas, mantém expectativas positivas para o fim de ano, com projeção de faturamento de R$ 68,97 bilhões no Natal. Com números mais favoráveis no acumulado, e a injeção de mais de R$ 660 milhões do pagamento do 13º salário dos funcionários do Estado, a expectativa dos varejistas do Amazonas é que as vendas natalinas compensem uma Black Friday fraca e ajudem a consolidar um incremento de 3% a 4,5% para o setor, no acumulado de 2023.

Receita e crédito

O varejo avançou em apenas 12 das 27 unidades federativas, entre setembro e outubro. Mas, apenas oito foram além de 1%. Apesar do recuo de 0,3%, o Amazonas subiu da 15ª para a 11ª posição, empatando com o Espírito Santo. O melhor dado veio do Maranhão (+3,1%) e o pior, do Rio de Janeiro (-2%). Com a retração no comparativo com o mesmo mês de 2022 (-0,8%), caiu do nono para 13º lugar, em uma lista encabeçada por Tocantins (+12,6%) e encerrada pela Paraíba (-21,8%). No acumulado de 2023, o Estado passou da oitava para a sétima posição, também com Tocantins (+12,6%) e Paraíba (-7,8%) nos extremos.

O ritmo ainda ameno do IPCA de setembro (+0,24%) não impediu o descolamento na receita nominal – que não leva em conta a inflação do período –, embora tenha ajudado nas vendas. A variação mensal ficou negativa em 0,1%, em desempenho ainda mais fraco do que o de setembro (+0,3%). O confronto com outubro do ano passado indicou avanço de 1,2%, enquanto os acumulados do ano (+4,2%) e dos 12 meses (+4,3%) também pontuaram elevações mais robustas. As respectivas médias nacionais foram -0,1%, +1,9%, +4% e +5,1%.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção mais uma vez apresentaram saldo negativo reforçado, levando o varejo ampliado a um tombo mensal de 0,7%. Houve ainda um incremento de 2,3% ante o mesmo mês do ano passado, segurando o crescimento de janeiro a outubro (+3,2%). Em seu sexto mês no quadrante positivo, a variação anualizada expandiu 2,2%. A média brasileira (+0,4%, +2,5%, +2,4%, +1,8%) foi mais fraca apenas nos acumulados.

O crescimento do comércio brasileiro na variação mensal se limitou a três dos oito segmentos investigados pelo IBGE: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+1,4%); livros, jornais, revistas e papelaria (+2,8%); e artigos de uso pessoal e doméstico (+0,2%). Em contrapartida, equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-5,7%); tecidos, vestuário e calçados (-1,9%); hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%); combustíveis e lubrificantes (-0,7%); e móveis e eletrodomésticos (-0,1%) encolheram.

“Quadro de estabilidade”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatiza que esta foi a primeira vez no ano em que a vendas do comércio amazonense foram inferiores às mesmo mês de 2022. “Isso causou a primeira queda do acumulado do ano em oito meses. O varejo ampliado teve queda mensal ainda maior, embora tenha conseguido superar o ano passado. Com a média móvel trimestral negativa em 0,4%, é provável que em novembro ou dezembro haja melhorias no varejo local. No entanto, o quadro atual é de estabilidade”, sentenciou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, assinala que, em âmbito nacional, o setor já vem marcando passo há nove meses. “As variações estão muito próximas a zero desde fevereiro, ficando na leitura da estabilidade em todos os meses, exceto março (0,7%), maio (-0,6%) e julho (0,7%). Isso mostra um retorno ao comportamento anterior a 2020, após as variações mais acentuadas que observamos no período de pandemia, com números ainda mais tímidos do que o padrão pré-covid. Mas, num cenário de médio prazo, a perspectiva está positiva, com crescimento nos acumulados do ano e em 12 meses”, analisou.

Vazante e Natal

O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, diz que o comércio não teve desempenho expressivo em 2023 e que a estiagem “bateu forte”, mas salienta que o setor é capaz de se reinventar. “Tivemos aumento de custo e prazos quadruplicados. Mas, o Natal é uma data surpreendentemente forte e pode mexer com o desempenho do ano. Tenho conversado com empresários de vários segmentos e todos se mostraram muito eufóricos. Nossa expectativa é crescer um pouco abaixo de 5% e um pouco acima de 4%”, ponderou.

O vice-presidente da ACA, Paulo Couto, concorda que o varejo sofreu com a vazante, mas avalia que a pulverização do mercado e a concorrência das vendas pela internet, em um ambiente de altas taxas de juros e endividamento, pesaram mais. “Empresas com lojas do interior tiveram muita dificuldade de abastecer suas filiais. Até pedimos ao governo estadual para prorrogar os prazos de pagamento do ICMS, e não fomos atendidos. O comércio já vinha com vendas e rentabilidade baixas. Mas, o consumidor sempre compra no Natal, mesmo com dificuldades”, ressalvou, acrescentando que projeta aumento de 3% a 3,2% para o setor, ao final de 2023.

Em comunicado à imprensa, a CNC informou que, embora tenha rebaixado suas projeções para 2023, mantém otimismo nos resultados, embasada na política monetária, recuo na taxa de câmbio e sinais positivos do mercado de trabalho. “À medida que as condições de consumo da população vão melhorando, por conta da queda das taxas de juros e do controle da inflação, as perspectivas dos comerciantes são de um bom fechamento de ano”, finalizou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

Comentários

Buscar

Compartilhe

Comércio do Amazonas aposta nas vendas do Natal para salvar ano difícil

Guia de Associados