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Catraeiro da Amazônia

Por Paulo Almeida Filho

4 de novembro de 2024 às 14:40 Compartilhe

E o CATRAEIRO com suas faias batendo na água, movimentando a pesada catraia (canoa) que apesar do progresso ainda vão da rua dos Andradas ao Educandos, quando o Igarapé do Educandos está cheio.

CATRAIA JÁ FOI TRANSPORTE COLETIVO.

Da Rua dos Andradas ao Educandos.

Da Fábrica de Cerveja, localizada no Bairro de Aparecida ao Bairro de São Raimundo, indo e vindo.

De lá pra cá, daqui pra lá.

Rio cheio percurso maior.

Bancos dos lados, com toldo nos dias de sol, Bem enfeitadas para a procissão de São Pedro, eram as preferidas antes da ponte
“Presidente Dutra” mostrar o caminho da, então, estrada de São Raimundo.

Quando a baixa da égua era linha divisória entre o bairro e a estrada de Educandos, Sem os ônibus fazendo a concorrência.

Quase a única ligação com a cidade, tinham, assim, freguesia certa.
Principalmente nas horas de refeição ou quando havia arraial nos bairros, Indo pro meio do rio isolando tudo. Nas ocasiões em que um visitante saía do sério ou
precisava correr.
Principalmente nos campos de futebol quando o time local perdia. Muitos passageiros, ninguém ficava em pé, todo mundo sentadinho, pra dar lugar.

Catraias Manauaras

Coluna: A Cidade em Foto do Jornal A Gazeta, 15 de janeiro de 1964.

 

As embarcações que colidiram em Manaus, em 1953, faziam sempre a mesma rota, diariamente, dezenas de vezes.
Eram três catraias que cruzavam o igarapé de São Raimundo – braço do rio Negro,
transportando para o outro lado as pessoas que iam trabalhar, estudar, passear, namorar no bairro de Aparecida ou no centro da cidade.
Naquela época, a catraia cobrava dois tostões por travessia e era o único ponto de ligação entre os dois mundos.
Cada uma delas havia custado o equivalente a 600 dólares e tinha capacidade para carregar 15 passageiros.
O Comandante da Sertaneja era o João Baú, cearense de idade indefinida, aleijado, sem pernas, que se deslocava com o corpo apoiado dentro de um caixote.
Ele se revezava no remo com seu filho, o Facadinha.
Quem comandava a Novo Amazonas era o Boca de Jóia, um cabocão parrudo, desdentado e de lábios caídos, de 50 anos, nascido em Parintins.
A Rumo Certo era – digamos assim – a terceira nave, capitaneada pelo Chico Cururu, um antigo vendedor de vísceras e miúdos de boi. Dos três, ele era o único que havia aprendido a ler
no Grupo Escolar Olavo Bilac, onde cursou até o 2º ano A do curso primário.
Nenhum deles estudou ética.
Como ocorreu o acidente?
Naquele sábado, o time dos bucheiros – o Sul América Sport Club – levando numerosa torcida, atravessou o igarapé do São Raimundo para enfrentar, no campo do Hore, o Independência do bairro de Aparecida, na decisão disputadíssima de um torneio de vida e morte. Perdeu de 5 x 1, dois gols do Quinha, dois do Melado e um, de falta, do Paulo Lira, o maior
ponta esquerda do mundo.

O jogo terminou já no comecinho da noite debaixo de muita porrada.
Jogadores e torcida correram, em fuga desordenada, para o Porto das Catraias.
Nem mesmo a Pinta, a Nina e a Santa Maria tiveram papel histórico tão relevante como a Rumo Certo, Novo Amazonas e Sertaneja, que acolheram homens, mulheres, crianças e idosos
perseguidos por uma pequena multidão raivosa.
As catraias ficaram apinhadas, cada uma com o dobro do limite máximo de passageiros. A travessia era mais demorada do que de costume por ser noite e porque o rio estava
transbordando.
Em 1953, o Amazonas enfrentava a maior cheia de sua história.
A noite era um breu. Os remos mal conseguiam se mover.
Foi aí que as três canoas se chocaram, não aguentaram tanto peso e afundaram com cerca de 100 passageiros – alguns dos quais não sabiam nadar – nas águas do igarapé que
recebia esgotos domésticos e efluentes industriais e tinha alto índice de coliformes fecais e
metais pesados.
Sejamos honestos: a primeira reação dos comandantes – Chico Cururu, João Baú e Boca de Jóia – foi abandonar o barco, porque eles eram tão cagões quanto Francesco Schettino, da
Italia.
Encagaçar é humano, mas persistir no encagaçamento é que é desumano.
Eles se encheram de coragem quando ouviram um grito solidário que cortou a noite: – “Salvem primeiro as crianças, as mulheres, os velhos, e quem não sabe nadar” !
Alguns dizem que o grito foi de Dazinha, a Adalgiza, enrolada na bandeira do Sul América que ela mesma havia bordado. Outros juram que o grito foi da Neca, a Ludinéia.
O certo é que, independente da autoria, o grito foi escutado.
Assim foi feito, e ninguém morreu afogado, embora por haver mergulhado no coco e na merda, muita gente teve diarreia, colite, gastrite e outras doenças infecciosas.
Os três catraieiros – Chico Cururu, Boca de Joia e João Baú – esse último nadando “cachorrinho” – parecem ter ouvido também o apelo do Pinduca num carimbó que ainda nem
existia. O certo é que foram buscar o amor no lado de lá.

„’Catraieiros’‟ de Alter do Chão, em Santarém no Pará: figuras da identidade de um paraíso amazônico.
Cerca de 170 remadores fazem rodízios em 100 canoas (catraias).
Eles são responsáveis por fazer a travessia dos banhistas para a Ilha do Amor, principal cartão-postal da Vila Balneária.
Coloridas de azul e branco em um movimento de ir e vir feito a remadas nas águas do Lago Verde, as catraias (canoas) de Alter do Chão, em Santarém, no oeste do Pará, têm um destaque
ímpar na paradisíaca vila balneária. Conduzidas pelos catraieiros (remadores), são elas os Principais meios de transportes usados na travessia até a Ilha do Amor.                                                                           

 

 

Esses profissionais, que de sol a sol levam os banhistas às águas quentes do Rio Tapajós, fazem parte da identidade local.
Para a turismóloga Erbena Costa, o catraieiro e a vila são duas coisas que se completam e somam para o turismo local.
“Essa figura do catraieiro é fundamental porque ele faz parte da paisagem, não destoa da cena. Se fôssemos trocar essa embarcação manual por motorizadas, iríamos descaracterizar a
paisagem bucólica, rústica do local. É a imagem da Ilha do Amor que é mais divulgada pelo mundo e, consequentemente, os catraieiros acompanham tudo isso. O turista sempre vai querer
andar de catraia”, disse.
Apesar de ser um serviço que depende das condições climáticas, como dias ensolarados, vazante e cheia dos rios, os catraieiros se dizem felizes naquilo que fazem.

 

Esta música está disponível para ouvir no site do YOUTUBE.

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