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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS-194 – PAPAGAIO FALANTE – SATERÉ MAWÊ

Por Paulo Almeida Filho

20 de maio de 2024 às 13:55 Compartilhe

 

A formação de um guerreiro Sateré Mawé é celebrada na Festa da Tucandeira, onde se manifestam o mito e a poética da etnia através do ritual de passagem do menino para a fase adulta.

Chamada pela etnia de Waiperiá a celebração é a maior expressão de identidade do grupo.

Sateré-Mawé, na língua nativa significa: ‘’Lagarta de Fogo e Papagaio Falante’’, respectivamente.

Ao longo da história o povo Mawé, tem buscado manter sua identidade e sua própria existência, portanto, dentro do ritual de passagem, há uma carga simbólica que revela o mito e a poesia do clã, revelado a sensibilidade expressa na tucandeira e no guerreiro Sateré- Mawé.

Por isso os níveis que o jovem Sateré Mawé atravessa ao se deparar com a tucandeira, onde se dá conta de sua real condição humana ante ao ser mítico imortal.

Este resultado de investigações realizadas em distintas comunidades Sateré Mawé localizadas na região norte do Amazonas.

Também chamados de “Filhos do Guaraná” por serem os primeiros a domesticar a cultura dessa planta, os Sateré-Mawé vivem na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará, na área indígena Andirá-Maráw, cujos principais rios são: Andirá, Maráw, Urupady, Uaicurapá e Majurú.

São chamados originalmente de “Mawés” nome que significa “papagaio falante“, mas, ao longo de sua história, já receberam vários nomes, dados por cronistas, desbravadores dos sertões, missionários e naturalistas: Mavoz, Malrié, Mangnés, Mangnês, Jaquezes, Magnazes, Mahués, Magnés, Mauris, Mawés, Maragná, Mahué, Magneses, Orapium, Maraguás e Maraguazes.

Atualmente se autodenominam Sateré-Mawé. Nome que é a junção do nome étnico original “Mawé” e “Sateré”.

O nome do clã mais importante do povo, o que detém os direitos políticos tradicionais das lideranças, cujo significado não se pode divulgar por ser proibido aos não-indigenas.

Se dividem tradicionalmente em cinco grandes clãs: o Sateré, cujo o símbolo é a “lagarta de fogo“, o Watunriá, que tem como símbolo a palmeira Açaí, a Hwariá, cujo simbolo é o Gavião, o Koreriwá, cujo simbolo é a cutia e o clã Napuwaniã, cujo o simbolo é o Guaraná. Além desses, há inúmeros outros clãs familiares de menos prestígios.

Sua língua é a Sateré que integra o tronco linguístico Tupi, mas que se diferencia da família Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática é tupi.

O vocabulário sateré contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não pode ser relacionado a nenhuma outra família lingüística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral.

Os homens atualmente são bilíngües, falando o Sateré-Mawé e o português, mas a maioria das mulheres, apesar de três séculos de contato com os brancos, só fala a língua
Sateré-Mawé.

Há um pequeno numero de pessoas que falam o Nhengatu, principalmente os que moram na aldeia Ponta Alegre e os que ganharam o reconhecimento etnico de Maraguá.

Segundo relatos dos velhos Sateré-Mawé, seus ancestrais habitavam em tempos imemoriais o vasto território entre os rios Madeira e Tapajós, delimitado ao norte pelas ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas e, ao sul, pelas cabeceiras do Tapajós. Os Sateré-Mawé referem-se ao seu lugar de origem como sendo o NUSOKÉN, lugar da morada de seus heróis míticos. Eles localizam-no na margem esquerda do Tapajós, numa região de floresta densa e pedregosa, “lá onde as pedras falam”.

Os Sateré-Mawé tiveram seu primeiro contato com os brancos na época de atuação da Companhia de Jesus, quando os jesuítas fundaram a Missão de Tupinambaranas, em 1669.
Em 1692, após terem matado alguns homens brancos, o governo declarou uma guerra justa (legal) contra eles, parcialmente evitada pelos índios, uma vez que estes foram avisados e se espalharam, sendo que somente alguns ofereceram resistência. A partir do contato com os brancos, e mesmo antes disso, devido às guerras com os Munduruku e Parintintin, o território ancestral dos Sateré-Mawé foi sensivelmente reduzido.

Em 1835 eclodiu a Cabanagem na Amazônia, principal insurreição nativista do Brasil. Os Munduruku e Mawé (dos rios Tapajós e Madeira) e os Mura (do rio Madeira), bem como grupos indígenas do rio Negro, aderiram aos cabanos e só se renderam em 1839.

Nessa guerra, onde se destacou o tuxaua Crispim de Leão, o maior herói Sateré-Mawé dos tempos modernos, morto envenenado por Padres em sua própria sede, a vila Freguesia do Andirá, no rio Andirá.

Epidemias e atroz perseguição aos grupos indígenas que com eles combatiam, devastaram enormes áreas da Amazônia, deslocando esses grupos dos seus territórios tradicionais ou reduzindo-os. Pensando em termos de macro-território, a ocupação da Amazônia pelos civilizados – termo usado pelos Sateré-Mawé para designar todos àqueles que não são Sateré-Mawé: caboclos, brancos, estrangeiros, com exceção das outras nações indígenas – restringiu consideravelmente seu território tradicional. Primeiro, foram as tropas de resgate e as missões jesuíta e carmelita; depois iniciou-se a busca desenfreada das drogas de sertão; em seguida a extração da seringa; e finalmente a expansão econômica das cidades de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba para o interior dos municípios, alocando fazendas, extraindo pau-rosa, abrindo garimpos, dominando a economia indígena através de seus regatões.

Em 1978, quando iniciado o processo de demarcação do território, as aldeias, sítios, roças, cemitérios, territórios de caça, pesca, coleta e perambulação situavam-se entre e ao redor dos rios Marau, Miriti, Urupadi, Manjuru e Andirá.

Os Sateré-Mawé consideravam essa extensão de terra como sendo sua, apesar de saberem que ela representava apenas uma pequena parcela do que já havia sido seu território tradicional. Eles são tradicionalmente índios da floresta, do centro, como eles próprios falam. Até o começo do século XX escolhiam lugares preferencialmente nas regiões centrais da mata, próximas às nascentes dos rios, para implantarem suas aldeias e sítios.

Nessas regiões, a caça é abundante; encontram-se em profusão os filhos de guaraná (como chamam, em português, as mudas nativas da Paullinia Sorbilis); existe grande quantidade de palmeiras como o açaí, tucumã, pupunha e bacaba, que sazonalmente comparecem na dieta alimentar; os rios são igarapés estreitos, com corredeiras e água bem fria. Esse é o ecossistema por excelência dos Sateré-Mawé e podemos observar, ainda hoje, que as aldeias que guardam formas de vida tradicionais “como no tempo dos velhos” (plano espacial, arquitetura, roças, rituais etc.) situam-se nessas regiões.

Os filhos do Guaraná – Inventores da cultura do Guaraná, os Sateré-Mawé transformaram  a Paullinia Cupana, uma trepadeira silvestre da família das Sapindáceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento.

O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional Sateré-Mawé.

O guaraná é o produto por excelência da economia sateré-mawé, sendo, dos seus produtos comerciais, o que obtém maior preço no mercado. A primeira descrição do guaraná e sua importância para os Sateré-Mawé data de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos.

O padre João Felipe Betendorf descrevia, em 1669, que “tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras“.

Existe uma distinção entre o guaraná de excelente qualidade beneficiado pelos Sateré-Mawé – chamado guaraná das terras, guaraná das terras altas e guaraná do Maraw – e o guaraná
beneficiado pelos civilizados na região de Maués, chamado guaraná de Luzéia – antigo nome desta cidade, de qualidade inferior porque produzido sem os conhecimentos e apuro das
práticas tradicionais dos índios.

O guaraná das terras sempre foi o mais procurado e, no entanto, os Sateré-Mawé vendem, no máximo, duas toneladas do produto por ano, e apenas nos anos de excelente safra.

 Já o guaraná de Luzéia, muito inferior, é produzido em larga escala; só uma empresa de comercialização do produto em Maués afirma vender 40 toneladas anuais.

 Preparo e consumo do Guaraná – O çapó, guaraná em bastão ralado na água, é a bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O
preparo e consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual. A natureza do ritual de consumo do guaraná é, porém, diversa da de um ritual
formal, como são a da Festa da Tucandeira ou a da leitura do Poratig.

Uma sessão de çapó foi descrita por Anthony Henman: “Essas práticas são messencialmente as mesmas em todas as circunstâncias, tanto se o çapó for preparado para o círculo familiar mais íntimo, ou para um encontro de todos os homens adultos durante uma festa ou reunião política. Cabe à mulher do anfitrião ralar o guaraná, operação feita com uma língua de pirarucu ou uma pedra lisa e quadrada de basalto.

Uma cuia aberta da espécie Crescentia cujete é colocada em cima de um suporte chamado patauí e enchida de água até um quarto do seu volume total. A ação de ‘ralar’ o guaraná molhado não busca a transformação do bastão em pó, como ocorre com o guaraná seco.

Antes, trabalha-se o guaraná para que se forme uma baba, uma viscosidade que adere ao ralo e ao pedaço do bastão em uso, sendo dissolvida n’água mediante a periódica submersão dos dedos da raladora. Depois de preparado, o çapó é de novo diluído com água guardada ao lado da “dona” do guaraná em uma cabaça da espécie Lagenaria siceraria. A cuia, já a essas alturas cheia até um pouco mais da metade de çapó, é entregue pela mulher ao seu marido, que toma apenas um pequeno gole antes de passá-la aos outros presente, normalmente prestigiando os mais velhos ou alguns visitantes importantes, se os houver.

Daí em diante, a cuia passa de mão em mão observando a proximidade física dos participantes, e não um rígido esquema de hierarquia, sendo acompanhado durante as sessões noturnas por um grande cigarro de tabaco enrolado numa casca de árvore.

O nome tauarí indica tanto o cigarro feito, como a casca e a própria árvore (Couratari tauary). O çapó é a bebida que os Sateré-Mawé utilizam durante seus resguardos. As mulheres
durante a menstruação, gravidez, pós-parto e luto e os homens na Festa da Tucandeira, no luto e quando acompanham suas mulheres durante o resguardo do pós-parto.

O ritual da Tukãdera ou “Watiamã’sa’ary” coincide com a época do fabrico e dura aproximadamente 20 dias. Os índios referem-se a este ritual como “meter a mão na luva“, também conhecido pelos regionais como “Festa da Tocandira“.

Trata-se de um rito de passagem – onde os meninos tornam-se homens – de extraordinária importância para os Sateré-Mawé, com cantos de exaltação lírica para o trabalho e o amor, e cantos épicos ligados às guerras. As luvas, chamadas de Sa’ary’pe, utilizadas durante este ritual são tecidas em palha pintada com jenipapo, e adornadas com penas de arara e gavião; nelas, o iniciado enfia a mão para ser ferroado por dezenas de formigas tucandeiras (Paraponera clavata).

Atualmente a população Sateré-Mawé é de dez mil pessoas, a maioria vivendo nas aldeias as margens dos seus rios principais, a outra parte vive nas cidades próximas como Parintins, Barreirinha, Maués e Nova Olinda do Norte, e, há uma considerável população na cidade de Manaus, alguns dos quais nascido lá e que mesmo vivendo em comunidade no centro urbano, não conhecem o território de seu povo. Das características e símbolos principais do povo Sateré-Mawé estão: a Festa da tukãdera, a formiga tukãdera, o guaraná, a bebida do guaraná (çapó), o papagaio (simbolo principal do povo), as cores verde e preta (cores simbolo do povo), a lagata-de-fogo e o remo sagrado Puratig.

Espero que tenham gostado.
Paulo Almeida Filho – Inativo/Am

FONTE: Wikipédia, Google, Youtube

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 “Lagarta de Fogo Saterê”

Boi Bumbá Caprichoso

Saterê, Saterê, Saterê-Maué
Saterê, Saterê, Saterê-Maué
Urupadi, Majuru
Tapajós, marau, andirá.
Lagarta de fogo Saterê
Lagarta de fogo Saterê
Papagaio falante Maué
Lagarta de fogo Saterê
Lagarta de fogo Saterê
Papagaio falante Maué
Lua no céu, no céu
Encanto no ar, no ar
Do sangue guerreiro
Do povo da ilha dos tupinambás.
O clã, o índio entrando na arena sagrada
O clã, o índio entrando na arena sagrada.
Lagarta de fogo Saterê
Lagarta de fogo Saterê
Papagaio falante Maué
Lagarta de fogo Saterê
Lagarta de fogo Saterê
Papagaio falante Maué

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