O comércio do Amazonas registrou o seu pior desempenho mensal do ano, em julho. O varejo local encolheu 0,6% em relação a junho, que teve a mesma quantidade de dias úteis. O resultado veio no sentido inverso ao dado anterior (+0,6%). O confronto com o mesmo período do ano passado, contudo, rendeu um resultado mais confortável para o setor, em um mês sem datas comemorativas e com boa parte da base consumidora em viagens de férias. O crescimento de 4,5% praticamente repetiu a performance de junho (+4,5%) e ajudou a consolidar os acumulados do ano (+3,8%) e dos 12 meses no azul (+2,6%).
O Estado bateu a média nacional em quase todas as comparações. A exceção veio justamente da variação mensal, que pontuou 0,7% de alta para o varejo brasileiro, graças às divisões de material de escritório, informática, artigos de uso pessoal, supermercados e drogarias, entre outras. O incremento frente a junho de 2022 foi de 2,6% e veio mais disseminado, incluindo também o segmento de tecidos, vestuário e calçados. O setor cresceu 1,5% em sete meses, puxado pelo subsetor combustíveis e lubrificantes. Em 12 meses, o acréscimo foi de 1,6%. É o que revela a Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada pelo IBGE nesta sexta (15).
O ritmo ameno do IPCA em julho (+0,12%) reduziu o descolamento na receita nominal e ajudou nas vendas. Embora o consumidor amazonense continue fugindo do endividamento e da inadimplência, o desempenho dos segmentos de bens de maior valor agregado, dependentes de crédito e inseridos no inseridos no chamado varejo ampliado – como veículos e material de construção – veio acima da média. Diante dos números, a CNC aumentou suas projeções de crescimento para 2023, de 1,8% para 2%.
De acordo com o IBGE, o comércio avançou em apenas 14 das 27 unidades federativas brasileiras, entre junho e julho. Mas, apenas sete delas cresceram além de 1%. O Amazonas caiu da 12ª para a 18ª posição. O melhor dado veio do Espírito Santo (+3,3%) e o pior, do Acre (-2,1%). Apesar da elevação anual de 4,5%, o varejo local desceu do sexto para o nono lugar, em uma lista encabeçada por Tocantins (+14,6%) e encerrada por Rondônia (-1,6%). No ranking do acumulado do ano, o Estado subiu da 12ª para a 11ª posição. Tocantins (+13,7%) e Rondônia (-1,5%) também protagonizaram os extremos, neste tipo de comparação.
Receita e crédito
Apesar da perda de fôlego do IPCA, o comércio amazonense teve resultados consideravelmente diferentes na receita nominal – que não leva em conta a inflação do período. A variação mensal ficou positiva em 0,4%, em desempenho inferior ao de junho (+1%). O confronto com julho do ano passado indicou avanço de 3,5%, enquanto os acumulados do ano (+4,6%) e dos 12 meses (+4,9%) também pontuaram elevações mais robustas. As respectivas médias nacionais foram +0,8%, +2%, +4,2 e +7,5%.
Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção apresentaram saldo significativamente saldo positivo, levando o varejo ampliado a um acréscimo de 1,2% na comparação com junho. O aumento chegou a 16,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, encorpando o desempenho de janeiro a julho (+8,9%). Em seu terceiro mês no azul, a variação anualizada expandiu 4,3%. A média brasileira (-0,3%, +6,6%, +4,3%, +2,3%) colecionou números mais fracos.
Assim como no levantamento anterior, o crescimento do comércio brasileiro na variação mensal se restringiu a quatro dos oito dos segmentos sondados: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+11,7%); artigos de uso pessoal e doméstico (+8,4%); hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+0,3%); e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,1%). Em contrapartida, tecidos, vestuário e calçados (-2,7%); livros, jornais, revistas e papelaria (-2,6%); móveis e eletrodomésticos (-0,9%); e combustíveis e lubrificantes (-0,1%) encolheram.
“Vendas estagnadas”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, concorda que os números de julho mostram que “as vendas do varejo amazonense estão estagnadas”, mas ressalva que ainda é cedo para tentar antecipar o que vai acontecer no setor nos próximos meses. “O comércio ampliado foi melhor. O que significa dizer que algo bom aconteceu com as vendas de automóveis, peças e materiais de construção. A média móvel trimestral do indicador está em +0,7%. É pouco para a circunstâncias do que vem ocorrendo com a atividade nos últimos meses, que foram de pouco crescimento”, alertou.
Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explica que o crescimento registrado pelo comércio brasileiro vem após três meses de resultados próximo de zero. “Assemelha-se a março, em termos de patamar, pegando esse cenário de estabilidade, mas ainda não é o caso de um crescimento pronunciável”, ressaltou. Com o resultado de julho, o comércio varejista do país está 2,2% abaixo do nível recorde da série, de outubro de 2020.
“Sofrível desempenho”
O vice-presidente da ACA (Associação Comercial do Amazonas), Paulo Couto, avalia que a política de juros altos praticada pelo BC, “em que pese o exitoso controle da Inflação”, ainda está pesando “indubitavelmente” sobre o consumo das famílias e as vendas do setor. Segundo o dirigente, o “sofrível desempenho” das vendas de julho é agrado pela “baixíssima rentabilidade” e eventuais déficits operacionais, levando em conta as comerciais que acumularam “grandes prejuízos” de janeiro a agosto.
“Os índices divulgados pelo IBGE fazem referência tão somente a faturamento e, como dizem alguns comerciantes tradicionais, ‘o apurado não é lucro’. A política econômica do governo federal não traz confiança ao empresário. Se olharmos o nível de investimentos das empresas, veremos que são insuficientes para promover um retorno adequado à atividade comercial. O fechamento de setembro não sinaliza melhoras, em função dos feriados da primeira dezena. Aguardemos”, arrematou.
Boxe ou coordenada: CNC aumenta projeção de crescimento para o comércio
Os números do IBGE, assim como a consolidação do recuo da inflação e da taxa de câmbio, e os sinais positivos do mercado de trabalho, levaram a CNC a revisar a perspectiva de aumento das vendas no varejo de 1,8% para 2% neste ano.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a expectativa positiva da entidade leva em conta o início de um ciclo de redução da Selic e os efeitos da diminuição dos juros sobre as condições de consumo. “Um ambiente mais propício ao consumo deve se fortalecer a partir da segunda metade deste ano. Aliada a isso, a aceleração do ritmo de atividade econômica, maior do que o esperado no segundo trimestre, compõe o cenário positivo para o varejo”, encerrou.