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Tribo Indígena Parintintin

Por Paulo Almeida Filho

26 de julho de 2023 às 12:14 Compartilhe

Os Parintintin integram o conjunto de pequenos grupos que se autodesignam Kagwahiva, mas que hoje são conhecidos por nomes separados, muitos deles dados por grupos inimigos. Os Parintintin, nome possivelmente dado pelos Munduruku, são os que habitam mais ao norte. Entre as singularidades dos Kagwahiva em relação aos outros Tupi-Guarani, destaca- se a organização social em metades exogâmicas com nomes de pássaros

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Quando os Parintintin foram “pacificados” pela FUNAI, em 1922/23, seu território se estendia da região leste do Rio Madeira até a boca do Rio Machado, a leste do Rio Maici. Hoje a maioria da população habita em duas TI no município de Humaitá, no estado do Amazonas, segundo dados da FUNAI. A TI Ipixuna em 1999 era habitada por 54 pessoas e TI Nove de Janeiro, em 2000, tinha uma população de 80 pessoas.

 

Língua – Em seu sentido mais amplo, a designação Kagwahiva ou Kagwahiva’nga significa “nossa gente”, em oposição a tapy’yn, “inimigo”. Os grupos que se identificam como Kagwahiva são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani. Dentre eles, é possível discernir dois dialetos mais importantes: aquele falado mais ao norte, entre os Parintintin, os Tenharim, os Juma e os Jiahui; e o falado pelos grupos mais ao sul, os Urueu-wau-wau, Amondawa e Karipuna, distintos por algumas poucas, mas significativas diferenças de vocabulário.

Crianças ouvindo gramofone. Foto: IR1/SPI – Acervo Museu do Índio, 1927

 

Há registros escassos sobre os Parintintin – relatos sobre seus ataques ao longo do rio Madeira – anteriores à sua “pacificação”, que se deu por uma expedição liderada por Curt Nimuendajú em 1922-3.

 

Semelhanças fonéticas com os Urubu Ka’apor do Maranhão sugerem uma origem costeira do grupo, confirmada por narrativas orais sobre uma jornada rio acima de uma “terra sem água” até sua localização presente, atravessando uma área extensa em que não se via margens por dois dias (possivelmente o baixo Amazonas).

 

No que concerne aos Parintintin, tratava-se de um pequeno grupo guerreiro que durante o final do século XIX e início do XX esteve em conflito com seringueiros ao longo dos 400 Km do rio Madeira, depois de ter sido levado do Tapajós, pelos Munduruku, até a região do Madeira.

 

No final do século XIX, é provável que Byahú fosse o chefe de todos os Parintintin. Após sua morte (em uma emboscada de um Pirahã), eles se dividiram em subgrupos: o filho de Byahú, Pyrehakatú, subiu ao vale do Ipixuna e se tornou chefe ali; enquanto Diai’í, depois da morte de Byahú, liderou o deslocamento de um grupo até a região do alto Maici, onde Nimuendajú estabeleceu seu posto de pacificação; um terceiro grupo rumou para o sul, perto da boca do rio Machado, liderado por Uarino “Quatro Orelhas”. Depois da pacificação, postos do SPI (Serviço de Proteção aos Índios, órgão precursor da Funai) foram instalados. Um deles em um canavial no Ipixuna, e outro perto do seringal Calamas. Em 1942, quando o SPI passava por uma crise econômica e institucional, sua atuação no local foi encerrada sob o pretexto de punir um chefe insurgente, o filho adotivo de Pyrehakatu, Paulinho Neves (Ijet), que então se tornou o chefe na área do Ipixuna.

 

Grupos Parintintin também viviam perto de Três Casas, no seringal de Manuel Lobo, o qual chamou o SPI para iniciar a pacificação em 1922. Posteriormente, nos anos 70, foi instalado ali um posto indígena, já sob a gestão da administração da Funai em Porto Velho.

 

Como entre os demais Kagwahiva, a organização social Parintintin é composta por metades nomeadas por espécies de pássaros com características contrastantes. Cada metade corresponde a um grupo patrilinear exogâmico (ou seja: os indivíduos pertencem à metade de seu pai e só podem casar com alguém da metade oposta).

 

As aldeias Parintintin não são muito grandes. Sobretudo desde a redução populacional decorrente do contato, as aldeias contam tipicamente com três a cinco famílias nucleares. Antes da “pacificação”, as aldeias maiores, sob a liderança de Pyrehakatú, contavam com pouco mais de duas ou três vezes esse tamanho.

 

Geralmente, as aldeias localizam-se à beira de igarapés, que dão acesso ao transporte por canoas e à pesca. A configuração tradicional da aldeia consiste numa única casa comunal (ongá) na qual cada família nuclear ocupava um segmento entre os pilares centrais e as paredes laterais, onde penduravam suas redes. Apenas excepcionalmente grandes aldeias possuíam duas casas. Ao redor da casa, ou entre as duas casas, ficava a praça (okará), que era rigorosamente mantida limpa de mato, e uma boa aldeia também deveria possuir árvores frutíferas.

 

Após anos de contato com a sociedade não-indígena, a ongá foi substituída por casas que comportam apenas a família nuclear, de formato semelhante às casas dos seringueiros, feitas de madeira, com dois quartos separados e um cômodo aberto na frente. Uma aldeia atualmente comporta em média três ou quarto dessas casas. Entre os Parintintin, as metades patrilineares exogâmicas têm nomes dos seguintes pássaros: os myt_m (mutum, ave doméstica comestível) e o kwandú (harpia, gavião).

 

A metade Kwandú é ainda associada à arara de cabeça vermelha, taravé. (Enquanto todos os Kagwahiva têm o mutum como uma metade, a outra é identificada por diferentes araras: taravé entre os Tenharim, kanindé (a arara azul e amarela) entre os Urueu-wau-wau), e ainda uma arara diferente entre os Karipuna.

 

Entre os Parintintin, o sistema se complexifica com um terceiro grupo, os Gwyrai’gwára, que são considerados Kwandú, mas casam indiscriminadamente com outros Kwandú ou com Mutum. Eles são identificados com o japú, um pássaro amarelo que constrói seu ninho em galhos sobre rios e igarapés.

 

Como o padrão de casamento Parintintin é uxorilocal (o homem vai viver com a família da esposa) e as metades patrilineares, estas não possuem correspondente geográfico.

 

Os Kagwahiva parecem ser os únicos dentre todos os grupos Tupi-Guarani que possuem metades exogâmicas. É pouco provável que as metades tenham sido incorporadas de seus inimigos tradicionais, os Munduruku, pois suas metades Vermelha e Branca têm estrutura diversa. A fonte mais provável parece ser os Rikbaktsa, que eram vizinhos do grupo ancestral Cawahib no rio Arinos e que têm um par de metades com nomes de pássaros: especialmente os amarelos e araras vermelhas.

 

A terminologia de parentesco Parintintin corresponde a um sistema de duas seções ajustado a tais metades, com termos de sibling extensivos à mesma geração de membros de uma mesma metade, sendo o irmão da mãe e a irmã do pai identificados como afins classificatórios. Todos os primos cruzados (filho da irmã do pai ou do irmão da mãe de sexo oposto ao sujeito em questão) de mesma geração são membros de metades opostas e são designados amotehé (um termo que significa “amante”) em outras línguas Tupi-Guarani, isso porque são potencialmente casáveis.

 

Um aspecto do parentesco Parintintin que não foi verificado entre os demais Kagwahiva são as séries distintas de termos para parentes mortos. Para falar de um parente falecido, não se pode usar o termo que se usava para se referir a ele quando estava vivo. Há uma série de termos de parentesco exclusivos para parentes mortos, alguns deles acrescentando o sufixo – ve’e ao termo de parentesco regular, mas alguns são completamente diferentes: “pai” = rúva, “pai falecido” = poría.

 

O casamento Parintintin é tradicionalmente definido por uma série de arranjos desde o nascimento. Quando nasce uma criança, ela deve ser nomeada pelo irmão da mãe que tenha uma criança pequena de sexo oposto. No ritual de menarca (primeira menstruação) da sobrinha, esta pode casar-se com seu primo cruzado, filho de seu nomeador. Na cerimônia, a noiva é dada por dois irmãos reais ou classificatórios (os primos paralelos). Esses irmãos, em contrapartida, ganham o direito de um deles dar o nome para o filho que ela vir a ter e, assim, garantir o parentesco daquela criança com um filho seu.

 

Um homem conclui seu casamento por meio de um período de “serviço da noiva”, em que trabalha para o sogro (tutý). Com o final desse período, cerca de cinco anos no caso da primeira esposa, e menos para uma subseqüente, o casamento é considerado inteiramente realizado. O casal então se muda para seu próprio setor na maloca (ongá), ou, mais recentemente, está livre para construir sua própria residência. Nesse ponto, o genro está em princípio livre para deixar a aldeia (se ele convencer sua esposa); mas na prática o casal usualmente continua no grupo da esposa, e o marido se torna um dos genros que seguem o sogro. A poligamia era praticada, preferencialmente entre irmãs, mas nunca foi muito popular por causa da complexidade das relações familiares envolvidas. Um homem com cinco esposas é ridicularizado por sua imprudência. Quando um homem casa-se pela segunda vez, a primeira esposa é considerada livre para deixá-lo se ela quiser; mas em alguns casos é a própria esposa que pede ao marido para que se case com sua irmã.

 

Muitos casamentos ainda seguem as regras de metades exogâmicas, mas é muito difícil para jovens encontrarem cônjuges apropriados da metade oposta, e o sistema de relações sociais vem sendo alterado. A monogamia é fortemente sugestionada pela Missão Salesiana, que vem uma vez por ano sacramentar os casamentos, assim como pela população local não- indígena, que freqüentemente configura entre os padrinhos de casais Parintintin.

 

Durante o período do serviço da noiva, o casal e seus filhos são considerados parte da unidade doméstica do pai da esposa. Eles penduram suas redes na seção do sogro na maloca (ou, hoje em dia, no quarto de sua família) e cozinham no mesmo fogo. O genro entrega toda a sua caça para que o sogro a distribua, e conserta sua casa. Ele não tem uma roça própria, mas ajuda a limpar o terreno da roça do sogro.

 

Esse ciclo de desenvolvimento é seguido mais estritamente no caso do primeiro casamento de um homem. Quando alguém do casal já foi ou é casado, o novo par tem mais autonomia.

 

As crianças pequenas são carregadas no colo da mãe para que tenham livre acesso a seu seio e são por ela cuidadas até cerca de três anos. Como duas crianças não devem ser cuidadas pela mãe simultaneamente, se uma nasce antes que a outra tenha desmamado e adquirido maior autonomia, ela não é cuidada pela mãe, mas pela irmã mais velha. Para evitar essa situação, um grande esforço é feito para se ter crianças com intervalos de no mínimo cinco anos, usando ervas contraceptivas.

 

As crianças que já aprenderam a andar passam aos cuidados de uma irmã maior. Nem sempre esta aceita a tarefa de bom grado, mas um laço especial geralmente acaba crescendo entre a criança e aquele que a cuidou. Às crianças é dada uma considerável liberdade de escolha, e punições físicas são fortemente evitadas; assim como o valor da generosidade é estimulado desde muito cedo.

 

Como dito, o primeiro nome é dado a uma criança (mbotagwaháv, “nome de brincadeira”) por um irmão da mãe em uma cerimônia de nomeação. Na iniciação masculina, o menino recebe sua tatuagem facial e seu primeiro ka’á, estojo peniano, de um irmão do pai, que o presenteia com um novo nome, associado à uma metade, que substitui seu nome de nascimento. Posteriormente, novos nomes são assumidos conforme mudanças de status social pelas quais passa o indivíduo, como casamento ou a entrada em uma nova fase da vida, ou ainda em certos eventos especiais: uma mulher no nascimento de seu primeiro filho (a) ou um homem que tirou a cabeça de um inimigo (prática que já não ocorre hoje em dia).

 

A iniciação feminina ocorre na menarca, quando a garota é isolada por dez dias numa rede atrás de um compartimento e fica restrita a rigorosos tabus de gestos e alimentação. No final ela é carregada para o rio por seu pai ou por um irmão e é ritualmente banhada, sendo então tatuada no rosto. Seu casamento com o primo cruzado (idealmente) ocorre em seguida.

 

Resultando da combinação de metades exogâmicas patrilineares com o serviço da noiva, uma maloca Parintintin consiste em um pai e filhas de uma metade, e genros da metade oposta. O irmão da mãe (tutý), como futuro sogro, é tratado com o mesmo respeito que o pai. É com o irmão do pai (ruvý) e com a irmã da mãe (hy’ý) que as relações mais próximas e afetivas são estabelecidas. Um homem que casa suas filhas pode se tornar o núcleo de uma aldeia, com um grupo de genros seguidores. Freqüentemente a autoridade do líder é reforçada por um irmão dividindo a liderança, ga-irúno. A esposa do líder também é uma parceira crucial, com importantes obrigações de hospitalidade e como líder das mulheres na aldeia. Tradicionalmente, o líder se retira desse cargo quando sua primeira mulher morre. Ele pode ser sucedido por um filho ou um genro. Um filho que passa a suceder seu pai pode ser dispensado do serviço da noiva, ou tê-lo abreviado.

 

O modo de controle de conflitos e comportamentos inadequados nos grupos Parintintin é evitá-los. Uma grande ênfase na socialização infantil é dada na acersão à competição e à violência nas brincadeiras. Um líder trabalha para amenizar conflitos no grupo mais por meio da persuasão e mediação do que por coerção. No caso de conflitos irreconciliáveis, uma das partes deixa o grupo. Assim, conflitos intragrupais desdobram-se na formação de novos grupos, resvalando numa situação de rivalidade e antagonismo entre grupos vizinhos.

 

A cosmologia Parintintin tem como expressão central o mito de Pindova’úmi’ga (ou Mbirova’úmi’ga), o poderoso ancestral chefe/xamã que criou a Gente do Céu (Yvága’nga) que aparece para os xamãs em suas cerimônias. Na narrativa mítica, Pindova’úmi’ga vai sucessivamente ao céu, ao rio, no subsolo e ao interior de uma árvore, encontrando-os já ocupados por, respectivamente, muitos espíritos, peixes, fantasmas e abelhas. Ele ergue então sua casa do trecho de floresta mais fértil para o segundo nível do céu, que ainda estava vazio, onde ele e seu filho se tornam a Gente do Céu. Tabus alimentares constituem uma parte sólida e central da vida dos Parintintin mais velhos. Diferentes tipos de comida são evitados (principalmente peixe, carne e mel) durante a gravidez e depois do nascimento da criança. Evitações em razão de doenças, especialmente em crianças, são estendidas aos parentes mais próximos. Lidar com mandioca é perigoso quando se está doente. Em outro exemplo, o sexo é proibido quando o timbó (por sua associação ao sêmen) está sendo usado no envenenamento de peixes. E sexo entre primos paralelos (membros da mesma metade) causa a morte dos filhos dos transgressores.

 

Tradicionalmente, a economia Kagwahiva é baseada na caça, pesca, coleta e agricultura de coivara. A pesca era feita com arco e flecha em canoas ou, durante a estação chuvosa, em plataformas triangulares (mbytá) feitas de varas amarradas entre árvores no trecho de floresta alagado. Quando as chuvas cessam, áreas que restam alagadas na floresta são também envenenadas com timbó, e os peixes boiam na superfície, quando são flechados. Tradicionalmente, os homens limpam o terreno para a roça na estação seca e as mulheres são responsáveis pelo plantio e colheita. Os homens, porém, sempre ajudam suas esposas na colheita, mesmo porque o trabalho na roça também é entendido como uma ocasião para atividades sexuais. Atualmente, porém, pela influência da população regional não-indígena, a colheita de mandioca e outros produtos é primordialmente uma atividade familiar. Homens e mulheres também hoje trabalham juntos na feitura da farinha de mandioca e do beiju.

 

O principal transporte no cotidiano dos Parintintin hoje é a canoa. Algumas delas são ainda feitas de troncos de árvores, mas a maioria é comprada de não-indígenas. Os mais velhos fazem excelentes arcos e flechas. As redes eram confeccionadas de algodão plantado nas aldeias pelas mulheres; mas agora são feitas de um material menos resistente comprado no comércio. A fabricação de objetos de cerâmica não consta na memória dos Parintintin vivos. Utensílios de metal comprados são usados para cozinhar; eles foram introduzidos mesmo antes do contato oficial por meio de ataques às casas de seringueiros. Mulheres, e hoje também alguns homens, fazem excelentes cestos, inclusive para transporte em expedições de caça.

  Celebração da Fé  
 

Crãô crãô crãó Ênauenê-nawê

Hã hã haê… Haê haê haê

 

Todo mundo tem o seu momento de celebrar a fé

As tribos que se reúnem num dabacurí Pra celebrar a vida

Pra celebrar a terra O fogo, a água

A mata e o ar

 

Todo mundo tem o seu momento de celebrar a fé

Celebram o nascimento e a criação A iniciação, a paz, a união

E ao som de tambores, flautas e maracás

 

Batem bem forte os pés no chão Celebram a dança, o rito, a consagração

Imensurável é o amor Do índio pela natureza!

 

Issé, ingaricó, hixkariana, tariana Taulinpang, juruena, kaiapó, kamaiurá Tikuna, ianomami, macuxi, teneterara Jarauara, javaé, borôro, matsé Nambikuara, parintintin

Sateré-mawé hei há Dabacurí hei há hei há

 

Issé, ingaricó, hixkariana, tariana Taulinpang, juruena, kaiapó, kamaiurá Tikuna, ianomami, macuxi, teneterara Jarauara, javaé, borôro, matsé Nambikuara, parintintin

Sateré-mawé hei há Dabacurí hei há hei há

 

As tribos celebram a vida As tribos celebram vida A natureza!

 

As tribos celebram a vida As tribos celebram vida A natureza!

 

Ao redor da fogueira Batendo os pés no chão

Composição: Sebastião Jr

Musica disponível no YOUTUBE para ouvir.

 

Espero que tenham gostado.

Paulo Almeida Filho – Inativo/Am

FONTE: Wikipédia, Google, FIBGE.

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