Imprensa

Notícias

Comércio

Comércio amazonense tem desempenho prejudicado pelo pagamento de dívidas e despesas

Por Marco Dassori

27 de abril de 2023 às 14:23 Compartilhe

O comércio varejista do Amazonas começou o ano no azul, mas cresceu abaixo da média atingida pelo setor em todo o Brasil. Houve alta de 0,8% nas vendas, na virada de dezembro de 2022 para janeiro de 2023, suplantando o resultado anterior (+0,2%). O confronto com o mesmo mês do ano passado – quando o Estado sofria os impactos econômicos da terceira onda da covid-19 – confirmou expansão de 1,1%. O acumulado dos 12 meses, no entanto, apontou para uma virtual estagnação (+0,2%). É o que revelam os dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados pelo IBGE, nesta quarta (12).

O Estado perdeu para a média brasileira do setor em todas as comparações. Em um mês sem datas comemorativas, e marcado pelas cobranças de IPTU, IPVA e compras de material escolar, a atividade avançou 3,8% em todo o país, na variação mensal. Foi o melhor resultado para o mês, desde o ano 2000 e a taxa de crescimento mais elevada para qualquer mês, desde julho de 2021. A expansão foi uma realidade para sete dos oito segmentos investigados pelo IBGE, com destaque para tecido, vestuário e calçados. O varejo cresceu 2,6% ante janeiro de 2022 e subiu 1,3% no acumulado dos 12 meses.

A primeira divulgação da pesquisa, após atualizações, ajustes e alterações metodológicas, mostrou uma lacuna ainda maior entre o comércio amazonense e o do restante do Brasil no desempenho dos segmentos que atuam com bens dependentes de crédito. Em sintonia com o avanço dos juros na ponta do consumo, o volume comercializado de veículos, autopeças e material de construção ficou abaixo do alcançado pelas demais atividades varejistas do Amazonas. A inflação, por outro lado, manteve o descolamento das vendas com os resultados da receita nominal, que declinou na variação mensal.

O comércio teve vendas positivas em 23 das 27 unidades federativas brasileiras, na comparação com dezembro de 2022. A alta de 0,8% não foi suficiente para evitar que o Estado desabasse da sétima para a 22ª posição do ranking. O melhor números veio o Espírito Santo (+8,8%) e o pior, de Mato Grosso (-1,7%). Com o acréscimo ante janeiro de 2022, o varejo local caiu do 16º para o 22º lugar, em uma lista liderada pela Paraíba (+15,9%) e encerrada pelo Rio de Janeiro (-2,2%). O Amazonas ficou na 21ª posição no ranking do acumulado dos meses ano, empatado com Goiás e Paraná. Os extremos foram protagonizados por Paraíba (+15,8%) e Rio de Janeiro (-3,6%).

Receita e crédito

O descolamento da receita nominal – que não leva em conta a inflação do período – foi mantido. A variação mensal ficou negativa em 0,6% nesse tipo de medida, em desempenho muito pior do que o de dezembro (+1,4%). O recuo do Amazonas só foi menor do que o do Amapá (-0,7%), nesse tipo de comparação. Em contraste, o confronto com o dado de janeiro do ano passado apresentou elevação de 5,5%, contribuindo para uma taxa de expansão de 6,3% no aglutinado dos 12 meses. O Estado ficou atrás da média nacional (+3,6%, +11% e +14,1%, na ordem) em todas as comparações.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção apresentaram saldo negativo nas vendas do mês, ao levar o varejo ampliado para uma queda mensal de 0,7%, repetindo a performance de dezembro. O impacto dos juros na corrosão da renda das famílias amazonenses também ajudou a reduzir os resultados da variação anual (+1,2%) e acumulada em 12 meses (-1,8%). Os números brasileiros (+0,2%, +0,5% e -0,5%, na ordem) foram melhores.

O IBGE informa que o crescimento do comércio brasileiro na variação mensal se disseminou em sete dos oito dos segmentos comerciais sondados, especialmente em tecidos, vestuário e calçados (+27,9%). Na sequência vieram os subsetores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+7,4%); hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+2,3%); artigos de uso pessoal e doméstico (+2%); combustíveis e lubrificantes (+1,5%); móveis e eletrodomésticos (+1,3%); e livros, jornais, revistas e papelaria (+0,6%). O único desempenho negativo veio do segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,2%).

“Melhora momentânea”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou à reportagem do Jornal do Commercio que o crescimento de janeiro foi “muito bem-vindo” pelo setor, após meses de oscilações. Mas, considerou que os números indicam “melhora momentânea”, já que a maioria das unidades federativas teve performance superior à do Amazonas na variação mensal – e apenas quatro encolheram. Segundo o pesquisador, a pesquisa ainda não indica crescimento sustentado para o varejo.

“Depois de fechar 2022 com um crescimento de 2,5%, o comércio amazonense começou o ano bem, em um resultado que reflete aquecimento de vendas dentro do mês. Mas, o varejo ampliado teve queda na comparação com o mês anterior e a média móvel trimestral do setor está negativa, o que não possibilita otimismo para os próximos meses”, alertou. “O comércio precisa sair das oscilações e se estabilizar em resultados positivos. Se vier uma sequência de três crescimento, será ótimo para o setor. Mas, houve apenas uma pequena elevação em dezembro e uma alta um pouco melhor agora”, emendou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, ressalta que o volume de vendas no varejo não registrava alta desde setembro do ano passado (+1,1%). “[As atividades de vestuário/calçados e de supermercados] sinalizam recuperação em janeiro, motivada principalmente por iniciativas pós-Natal. Já a queda no segmento de artigos farmacêuticos foi muito influenciada por cosméticos e perfumaria, que seguem em queda e têm variações mais sensíveis, já que os artigos médicos e farmacêuticos costumam ter trajetória mais estável”, analisou.

“Paiol de dificuldades”

Nenhuma das lideranças do comércio amazonense pode ser localizada até o fechamento desta matéria. Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços de Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, avaliou que os números da economia indicaram “uma certa recuperação” no primeiro trimestre. Salientou, entretanto, que o impacto dos juros sobre o poder de consumo das famílias, as “fortes chuvas”, e os estoques em baixa limitaram o potencial de vendas. Diante disso, o dirigente ressalta que o Dia das Mães será decisivo para que o setor saiba se o crescimento chegou para ficar ou não.

“Essa é a demonstração de um paiol de dificuldades, que acaba atrapalhando a economia. Temos de considerar ainda que, além de tudo, 2022 trouxe muitas oscilações desfavoráveis ao consumidor, apesar de todas as superações. Principalmente para as pessoas que ficaram endividadas em função do aumento de juros. Nossa expectativa é, ao atravessar pelos primeiros seis meses do novo governo, entrar em um processo de leve recuperação. Mas, os melhores momentos só virão no segundo semestre”, arrematou.

Comentários

Buscar

Compartilhe

Comércio amazonense tem desempenho prejudicado pelo pagamento de dívidas e despesas

Guia de Associados