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BORBOLETAS DO AMAZONAS

Por Paulo Almeida Filho

9 de julho de 2024 às 12:25 Compartilhe

 

 

“As borboletas são tantas e de tantas espécies no Amazonas, que não menos o fazem divertido que abundante: umas brancas e tão alvas como neve; outras vermelhas, já de carmesim, já de púrpura; como veludo estas; aquelas salpicadas à maneira de cravos: roxas umas, outras azuis; e finalmente de tantas cores, quantas produziu a natureza e inventou a pintura”.

Há uma espécie de borboletas amarelas que frequentam muito as praias dos rios em tão numerosos e inumeráveis bandos, que fazem amarelar as mesmas praias; onde quase sempre pousam; ou porque nelas buscam alguma lambujem com que se sustentam, ou porque a elas vão beber.

São todas as borboletas não só sustento, mas também regalo para muitos pássaros, que as caçam. Por outra parte se faz muito estimáveis pelas suas belas cores, e mansidão, que dos voláteis são os mais inocentes.

Os índios por mui propensos a agouros também os tem com as borboletas, ou com alguma das suas espécies, pelo que, quando alguma lhe entra em casa, ou voa perto, ou por entre eles, quando estão divertidos, logo ajuízam têm hóspede brevemente.

Sensível às mudanças ambientais, a borboleta é um dos animais ideais para a elaboração de diagnósticos de uma região. Por causa desse potencial, a bióloga Isabela Freitas Oliveira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), está desenvolvendo sua pesquisa de doutorado, com foco na análise do padrão de ocorrência desses animais em relação aos diferentes tipos de ambientes e sua resposta frente ao pulso de inundação dos rios amazônicos.

Ao estudar esses animais, a pesquisa busca identificar respostas e entender melhor as mudanças que o meio ambiente está apresentado para a biodiversidade. “Elas são um termômetro. Com as borboletas a gente consegue fazer um diagnóstico ambiental do local, há quanto tempo aquele lugar foi desmatado, se é uma área boa, bem preservada. As borboletas, só pela identidade delas, a gente consegue avaliar a qualidade ambiental”, diz Isabela.

Até o momento, a pesquisa analisou 372 espécies de borboletas e 1.026 unidades do animal.

O trabalho científico tem como base a análise de animais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Piagaçú-Purus, no Amazonas, e do Parque Nacional do Monte Roraima, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

A pesquisa envolve padrões ecológicos e a utilização das borboletas como modelos de estudo.

A pesquisadora lembra, ainda, um artigo do pesquisador Dr. Ricardo Spaniol, no qual ele verifica como as fragmentações da floresta contribuem com a redução das variedades de coloração desses tipos de animais, desenvolvidas no Projeto Dinâmico Biológica de Fragmentos Florestais.

Em 12/08/2013, um fenômeno da natureza tem impressionado moradores de Manaus. Milhões de borboletas invadiram a capital amazonense nas duas últimas semanas e já foram vistas, sempre em grupo, em diversas zonas da cidade.

Em entrevista, o entomólogo Francisco Felipe Xavier Filho, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explicou que Manaus é uma rota de passagem dessas borboletas, que estão migrando de outros estados e até de diferentes países da América do Sul para acasalar.

Na capital, elas encontram recursos necessários para repousar antes da reprodução.

A maioria das borboletas é marrom com parte das asas alaranjadas. De acordo com o pesquisador, a espécie é a Augiades crinisus.

Originária de países como Costa Rica, Peru, Colômbia, Bolívia e Venezuela, a espécie não é comum na Amazônia.

No Brasil, ela é encontrada somente na região Sul. No entanto, no período reprodutivo, elas deixam seu lugar de origem em busca de um ponto estratégico para acasalar.

O caminho é longo. Durante toda a trajetória, milhares delas morrem, sobrevivendo somente as mais resistentes. A espécie, segundo o especialista, costuma viver por aproximadamente quatro semanas. Destas, duas ou três são dedicadas à migração.

Estima-se que, no Amazonas, o destino final das borboletas seja o sul do Estado.

Elas também devem buscar áreas mais quentes do Mato Grosso.

No entanto, de acordo com pesquisa, elas encontraram em Manaus um ponto estratégico para descansar. “É uma viagem longa e elas buscam relaxar antes de seguir o trajeto. Não é coincidência elas estarem em Manaus. Essas borboletas devem passar por aqui há muito tempo, pois elas têm memória genética e sempre fazem a mesma rota, mas como a cidade se estabeleceu e tem recursos que elas precisam, como áreas verdes, elas ficam por aqui”,
explicou Francisco.

Segundo o pesquisador, o melhor horário para observar as borboletas é no início da manhã e no fim da tarde. No entanto, o forte calor que tem atingido a capital amazonense também tem mudado a rotina das borboletas. “Como está muito quente, elas acabam se cansando mais rápido e em horários de sol mais forte, como meio dia, elas buscam descansar, parando em árvores e entrando em casas”, destacou.

Apesar de já ter acontecido em Manaus outras vezes, possivelmente em menores proporções, o fenômeno não é tão comum.

Segundo Francisco Xavier, a migração para acasalamento das Augiades
crinisus acontece em períodos de aproximadamente cinco a cinco anos.

Outra curiosidade destacada pelo entomólogo é que, apesar das borboletas já fazerem este trajeto, há uma espécie de seleção natural feita entre os insetos que é favorável para a espécie. Diversos fatores encontrados na floresta amazônica contribuem para este processo.

Uma das principais barreiras geográficas para animais terrestres, que geralmente não atrapalha os que voam, é um dos “problemas” para estas borboletas: os rios amazônicos.

Por serem muito extensos, as borboletas acabam ficando cansadas durante a travessia. Um comportamento considerado curioso e importante para estudos, de acordo com o pesquisador, é a maneira como algumas destas borboletas morrem no amazonas.

Cansadas, elas entram em exaustão e caem na água. A cena, quando em grupo, se assemelha a uma espécie de suicídio coletivo. No entanto, segundo Francisco Xavier, é normal. “Elas não têm a intenção de se matar, mas não resistem. Isso é vital para a espécie, pois apenas as mais fortes chegam ao lugar propício para acasalamento e geram novas borboletas tão fortes quanto as que geraram”, ressaltou.

O pesquisador, que já trabalha no INPA há 25 anos estudando insetos, prevê ainda que estas borboletas deverão se adaptar melhor a Manaus nos próximos anos.

“Há muitos relatos de aparecimento destas borboletas no Centro de Manaus. Isto pode estar ligado à proximidade de áreas do Rio Amazonas que são mais estreitas, então é mais fácil para elas atravessarem. No futuro, pode ser que a Ponte Rio Negro seja um ponto estratégico para elas, usada como lugar de repouso e evitando os altos índices de morte na travessia. O rio é largo, tem muito vento e o sol é forte, então elas não resistem. Elas poderão avaliar a ponte como um bom lugar para descansar antes de continuar a travessia”, analisou o pesquisador.

Já há cerca de duas semanas em Manaus, as borboletas devem deixar a capital amazonense nos próximos dias para seguir o processo. Quem não viu o fenômeno natural deverá esperar, em média, mais cinco anos até que o novo período reprodutório das Augiades crinisus aconteça.

Mais uma vez a migração de borboletas chama a atenção no Amazonas, mas dessa vez são borboletas mesmo, e não mariposas. Amarelas, marrons e pretas, elas voam em grupos volumosos pela BR-319 e se reúnem às margens de rios e igarapés de águas escuras. Quem vê, diz que é como se elas usassem túneis invisíveis para seguir caminho juntas. Os moradores da área garantem que o evento acontece todo ano quando o verão amazônico chega, por volta do mês de julho.

Segundo relatos dos mais antigos, elas estão vindas do Sul do Estado. O que se pode comprovar in loco, é que o grupo está concentrado entre os municípios de Manicoré e Careiro da Várzea, entre as comunidades de Igapó Açu e Tupana, na rodovia. A estrada está em obras e as ações são alvo de litígio entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O comportamento indica os primeiros sinais de que o nível dos rios vai baixar. O agrupamento é chamado pelos indígenas de panapaná.

“Geralmente, o deslocamento destas borboletas indica que a vazante dos rios começou”, explica o biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Francisco Felipe Xavier. “Elas vão a busca dos sais minerais que estão expostos nas margens dos rios”, completa. No Sul do Amazonas, as espécies de borboletas mais comuns são das famílias Pieridae e Nymphalidae.

O estado de conservação da floresta entre os municípios de Humaitá e Careiro da Várzea, entre a BR-319 no sentido Porto Velho – Manaus, ainda permite a migração.

“Isso acontece em vários locais da Amazônia, mas por serem isolados, nós não sabemos porque não tem ninguém para ver e relatar”, avalia. Ele também acredita que o grupo venha para o Amazonas porque a região é mais propícia e menos desmatada que no Estado de Rondônia.

Segundo Xavier, que é técnico da coleção de invertebrados do instituto, notícias sobre o movimento das borboletas não são recentes. Na literatura, há relatos de historiadores e naturalistas sobre o deslocamento de nuvens de várias espécies juntas. “Os grandes naturalistas que passaram pela Amazônia, quando a capital do Amazonas ainda se chamava São José da Barra do Rio Negro, relatam que viram nuvens que levaram horas passando por cima do Rio Amazonas entre Santarém, no Pará, e Manaus, no Amazonas”.

Ele também explica que não é possível afirmar com precisão a razão do deslocamento, mas, com certeza, elas estão procurando sais minerais, um complemento da alimentação das borboletas.

O caminho que parece formar um túnel invisível também precisa de observação e pesquisa para ser explicado. “Sabemos que no deslocamento de alguns insetos, os indivíduos que vão à frente do grupo expelem um ferormônio e que faz com que os outros sigam o caminho. Isso já foi estudado nos grandes fluxos migratórios das monarcas”.

“Passageira” – A mariposa, Urania Leilus, a „passageira‟ que chamou a atenção do manauara no mês de maio ainda está no Estado. De acordo com Francisco Felipe, elas estão passando pela região do Baixo Rio Amazonas, em Parintins. “Achei que o movimento das uranias não seria tão prolongado, mas se você observar, ainda há grupos em Manaus. Agora elas estão concentradas em sua maior parte em Parintins. Ainda não sabemos o destino final, mas se descobrimos vai ser muito bom. Elas estão reunidas por causa de algum recurso natural”, conta.

Como parte dos esforços dedicados ao melhor entendimento e conservação das espécies, no site pretende colaborar na divulgação do conhecimento científico sobre borboletas na Amazônia.

No aspecto técnico, esperamos otimizar os levantamentos da fauna de borboletas em regiões remotas, além de fazer com que aumente o número de admiradores do mundo natural.

A iniciativa se baseia em projetos realizados junto ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Manaus), onde o Dr. Rose Vieira trabalhou nos últimos anos. Atualmente Dr. Vieira é pesquisadora visitante no Museu de História Natural de Karlsruhe na Alemanha, onde colabora nas atividades de curadoria, e comunicação científica.

Aqui são contempladas espécies de borboletas (Papilionoidea e Hesperioidea). Os espécimes foram fotografados principalmente ao redor de Manaus, mas também a imagens provenientes de outros Estados da Amazônia brasileira.

As espécies são apresentadas no ambiente natural e como exemplares de coleção zoológica, para mostrar detalhes da asa que podem auxiliar no reconhecimento taxonômico. Todas as imagens são acompanhadas de aspectos básicos da biologia, observados no campo ou provenientes da literatura técnica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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