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Balanço das vendas de Páscoa do comércio mostra frustração neste ano

Por Marco Dassori

20 de abril de 2023 às 16:04 Compartilhe

As vendas de Páscoa ficaram abaixo do esperado na capital amazonense. A projeção do varejo local era de um aumento de 4% em comparação com a mesma data comemorativa de 2022, o que daria uma receita bruta de R$ 61 milhões. O crescimento efetivamente atingido, no entanto, ficou em 3,5%. Com isso, o volume comercializado não passou dos R$ 58 milhões. Os dados foram fornecidos pela CDL-Manaus (Câmara dos Dirigente Lojistas de Manaus). A soma não leva em consideração o IPCA do período, que acumulou 4,65% nos 12 meses encerrados em março, conforme o IBGE.

 

A dúvida é se o resultado pode ou não ser tomado como termômetro para o desempenho do setor, que tem oscilado nos últimos meses, mas tem pela frente o Dia das Mães, considerado “o segundo Natal do ano”. O ponto negativo é que as empresas já sofrem com alíquotas mais pesadas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), a partir deste mês. A estimativa é que o aumento da carga tributária seja repassado aos preços, tornando mais incertas as vendas, em um ambiente de alta para os principais indicadores de confiança do consumidor, mas também para suas taxas de endividamento e inadimplência.

 

O balanço da CDL-Manaus indica, por outro lado, que o ticket médio de compras para a Páscoa não passou de R$ 148. Ficou 5,71% acima do apresentado em 2022 (R$ 140), mas 7,5% inferior ao esperado para 2023 (R$ 160). Dados da mesma entidade informam que os 3,5% de crescimento das vendas corresponderam a pouco menos da metade da taxa atingida um ano atrás (5,8%). O enfraquecimento da base de comparação de 2021 – período em que a atividade ainda sofria restrições sanitárias de distanciamento social – ajudou no resultado em questão.

 

Vale notar que a sondagem preliminar da CDL-Manaus já sinalizava arrefecimento no consumo. Embora o percentual de entrevistados dispostos a comprar (77%) fosse expressivo, ficou abaixo do registrado em igual intervalo do ano passado (82,6%). Em linha com os tempos de incertezas econômica, investimentos adiados, idas e vindas no PIB, e avanço na inflação, juros e inadimplência, os principais motivos listados pelos 23% dos entrevistados que optaram por não comprar um produto considerado “supérfluo”, foram “preços elevados” (67%) e “falta de dinheiro” (33%).

 

Investimentos e contratações 

 

Confiantes no potencial da data, os lojistas haviam ampliado em 8,57% as compras de chocolates para a Páscoa deste ano, que somaram 38 mil toneladas. Foi a maior quantidade adquirida pelo varejo, nos últimos quatro anos, superando com folga os registros de compras de 2022 (35 mil toneladas), 2021 (28 mil toneladas) e 2020 (29 mil toneladas), que foi um período marcado pelos impactos econômicos da pandemia e da volta da inflação. A estimativa da CDL-Manaus é que as vendas efetivas chegaram às 37 mil toneladas, restando um encalhe de mil toneladas de produtos derivados do doce.

 

Após emendar dois meses seguidos de extinção de postos de trabalho nas estatísticas do ‘Novo Caged’, o setor resolveu também reforçar as contratações para melhor atender a clientela da Páscoa. De acordo com a entidade empresarial, grandes empresas do setor, como Nestlé, Bauducco e Rochedo, disponibilizaram um contingente maior de vendedores nas lojas para divulgar seus produtos. O cálculo aponta que o esforço concentrado para as vendas gerou um saldo adicional de 250 a 300 vagas para o comércio local.

 

Os lojistas estavam confinantes no apelo da data. Os principais motivos da compra, segundo a CDL-Manaus, eram “gosto pelo chocolate” (56%), sendo que os principais critérios de escolha eram “qualidade do produto” (77%) e “promoções/descontos” (66%). Mais da metade (51%) dos entrevistados pretendia limitar os gastos em até R$ 100, com preferência para ovos de chocolate (64%), mas também caixas de bombons (51%) e barras de chocolate (28%) – que são mais baratas.

 

Mas, de acordo com o presidente da CDL-Manaus, Ralph Assayag, para se precaver diante de uma demanda mais tímida, o setor calibrou a oferta. “O tamanho médio [dos produtos adquiridos pelo varejo] deu uma diminuída em relação aos anos anteriores, justamente para o preço não ficar tão alto e caber no bolso dos consumidores. Antes o comércio vendia muitos ovos de 400 gramas, mas agora caiu para 350, 280 gramas”, pontuou o dirigente, em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio.

 

A entidade empresarial não confirmou quais as modalidades de pagamento, ou os locais de compra efetivamente escolhidos pelo consumidor, no Natal. O levantamento preliminar indicava que a maior parte dos consumidores de Manaus estava disposta a fugir do crédito, dando preferência cartão de débito (43%), ao dinheiro (40%), ou Pix (25%). Os supermercados e hipermercados (34%) foram apontados como os pontos de compras preferidos, seguidos de perto pelos shoppings centers (30%).

 

“Gastos inesperados”

 

Indagado se o desempenho de vendas da primeira data comemorativa do ano poderia balizar ou não a resposta do consumidor no curto prazo, o presidente CDL-Manaus não quis apresentar considerações sobre o assunto. Mas, no entendimento do dirigente, o simples fato de ter havido crescimento já é motivo para comemoração, diante das incertezas econômicas e de passivos inesperados no começo de ano.

 

“O resultado foi positivo, embora tenha vindo um pouco abaixo do apontado na pesquisa de intenção de compras. Acredito que isso aconteceu em função do impacto que todos sofreram com o seu IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano], além de outros gastos inesperados e dispêndios com volta às aulas. Tiveram de pagar valores que não estavam programados e, diante disso, foram forçados a reduzir despesas familiares. Mesmo assim, o desempenho foi de crescimento, quando comparado a outros anos”, ponderou Ralph Assayag.

 

“Sem dinheiro”

 

Já o primeiro vice-presidente da ACA (Associação Comercial do Amazonas), Paulo Couto, ressaltou à reportagem que as expectativas dos lojistas eram altas para a Páscoa, sendo que alguns associados apostavam em um crescimento de até 6%. O dirigente sentencia que “está faltando dinheiro na praça”. Mas, avalia que o resultado da Páscoa foi satisfatório, levando em consideração a conjuntura adversa da economia brasileira e os números do dia a dia do varejo amazonense, em 2023.

“Há uma boa defasagem vertical nas vendas, em relação a abril de 2022. As lojas de confecções estão com quedas de até 19%, enquanto segmentos como o de eletroeletrônicos também não têm o que comemorar. Falta investimento e confiança. Os juros estão altos, há instabilidade econômica e o consumidor está endividado. Tanto que as vendas em dinheiro, que já chegaram a responder por 60% do total, hoje não chegam a 25%. Como se não bastasse, estamos também com aumento de carga tributária. Mas, temos de ser otimistas, porque o Dia das Mães está chegando, e essa data tem grande apelo para o consumidor. Acho que vamos conseguir superar isso”, arrematou.

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